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domingo, 2 de outubro de 2022

Sílvio Caldas: Sorris da Minha Dor

Sílvio Caldas
Sorris da minha dor (valsa, 1938) - Paulo Medeiros

Disco 78 rpm / Título da música: Sorris de minha dor / Autoria: Medeiros, Paulo (Compositor) / Sílvio Caldas (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor, 18/08/1938 / Nº Álbum 34367 / Lado B / Lançamento: 10/1938 / Gênero musical: Valsa


------Am------------------------------- B7-- F7-- E7
Sorris da minha dor, mas eu te quero ainda,
--------------------------------------F ----E7
Sentindo-me feliz, sonhando-te mais linda
-------Am-------- Am6 ---------------Em---- B7
Escravo eterno teu farei o que quiseres
--------------------------------------------E7
Tens, para mim, a alma eterna das mulheres
--------Am -----------------------------B7 ---F7 ---E7
No meu jardim viceja a flor da esperança
-------------------------------------------Bb7---- A7
Meu pranto é meu amigo e a minha fé não cansa
------------------------Am6 ---------------Am
Na rima dos meus versos cheios de saudade
----------------------B7----- E7 --------A ---E7/5+---- A
És a flor, que se abriu para o meu amor


-----------------------Gb7 -------------B7------- E7
Aos teus braços, querida, ainda um dia
------------------------------------A
Terei o teu amor e os teus carinhos....
-----------------------------Bm
E os dois aureolados de alegria
-----------------E7 ------------ A----- E7/5+ ----A
Seremos um casal da passarinhos ....
------------------Gb7--------- B7 -------Db7
Tranqüilos e felizes, sonharemos
----------------------------------Gbm -------D
Uma porção de sonhos venturosos ...
---------------------Dm--------- A
E aos beijos de eternal felicidade
Gb7------------------ Bm
Há de ser a nossa vida
-----------E7------------- A--- F--- A
Um roseiral de ansiedades.

Sílvio Caldas: Serenata

Uma das primeiras composições da dupla Sílvio Caldas (foto) - Orestes Barbosa, "Serenata" foi adotada por Sílvio como marca musical de suas audições para o resto da carreira.

Pela beleza de sua letra, carregada de romantismo - "Dorme, fecha este olhar entardecente / não me escutes nostálgico a cantar / pois não sei se feliz ou infelizmente / não me é dado, beijando, te acordar" -, muito bem musicada por Sílvio, "Serenata" é exemplo de modinha do século XX, indispensável em qualquer seresta de bom gosto. Seu sucesso, em 1935, abriu a grande safra de canções de amor que imperaria nos anos seguintes.

Serenata (canção, 1935) - Sílvio Caldas e Orestes Barbosa

Disco 78 rpm / Título da música: Serenata / Autoria: Caldas, Silvio (Compositor) / Barbosa, Orestes (Compositor) / Caldas, Silvio (Intérprete) / Bandolim (Acompanhante) / dois violões (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1934 / Nº Álbum 33911 / Gênero musical: Canção


Am------------------------- F
Lá, rá, rá, rá, rá, rá,
----------------------------Am
Lá, rá, rá, rá, rá, rá
---------------------E7
Lá, rá, rá, rá, rá, ri
-------------Am -------E7
La, ri, ri, ri

---Am---------------- E7 ---------Am----- F7
Dorme fecha este olhar entardecente
----------------------------------Am------ F7
Não me escutes nostálgico a cantar
----------------------------------Am
Pois não sei se feliz ou infelizmente
B7 ---------------------------------E7
Não me é dado beijando te acordar
-----A7------------------------- Bb7 ------A7
Dorme deixa o meu canto delirante
---------------------------------------Dm
Dorme que eu olho o céu a contemplar
----------------Eb°-------- Am ---------F7
A lua que procura diamante
---------------------E7 -----------Am------ E7
Para o teu lindo sonho ornamentar
----------Am---------------------- G7
Na serpente de seda dos teus braços
---------------------------------F7
Alguém dorme ditoso sem saber
----------------------E7 ----------A7
Que eu vivo a padecer
Dm -------------Am---------------------- F7
E o meu coração feito em pedaços
Vai sorrindo ao teu amor
--------E7
Mascarado desta dor
Am----------------------------- G7
No teu quarto de sonho e perfume
--------------------------------F7
Onde vive a sorrir teu coração
----------------------E7------ A7
Que é teatro da ilusão
------Dm-------------- Am
Dorme junto a teus pés
--------------------F7
O meu ciúme
Enjeitado e faminto
--------------Am
Como um cão.



A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34

Gastão Formenti: Se Ela Perguntar

Se ela perguntar (valsa, 1932) - Sivan Castelo Neto

Disco 78 rpm / Título: Se ela perguntar / Autoria: Castelo Branco, Sivan (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Almirantes (Acompanhante) / Kosarin, Harry (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1932 / Álbum 33542 / Gênero: Valsa


Quando a deixei toda pálida a chorar
De amor / de amor / por mim
Nem sequer pensei que me fosse demorar
Assim / assim / tanto assim

Quando ela eu souber
Que eu estou triste / e que chorei

Decerto também vai sofrer / eu sei

Se ela perguntar
Você diga que vou bem
Que um dia eu hei de voltar
Desde que você a encontrar
De-lhe recomendações

Mas procure sempre lhe ocultar
As minhas desilusões
Não vá contar que me viu sofrer
Nem que me viu chorar
Diga que não a esquecerei
E que em breve voltarei

Se ela perguntar por mim...

Carlos Galhardo: Saudades de Matão

Raul Torres
Até 1920, quando Saudades de Matão já se tornara bem conhecida, pouco se sabia sobre sua autoria, sendo por alguns considerada tema popular. Então, através da revista A Lua, de São Paulo, Jorge Galati foi identificado como autor da composição (na foto: Raul Torres que fez a letra da valsa).

Nascido na província de Catanzaro (Itália) cm 1885, ele chegou ao Brasil cinco anos depois, quando a família transferiu-se da Europa para São Carlos do Pinhal (SP). Daí em diante, até sua morte em 1969, viveria em diversas cidades paulistas sempre levado por suas atividades musicais.

Assim, após estudar música em São José do Rio Pardo, já exercia com apenas 19 anos a função de mestre da Banda Ítalo-Brasileira de Araraquara. Foi aí, em 1904, que compôs a celebre valsa, originalmente intitulada Francana e que depois, à sua revelia, passou a chamar-se Saudades de Matão. A troca do título aconteceu por volta de 1912, sendo responsável pela mudança Pedro Perches de Aguiar, na época músico em Taquaritinga.

Em 1949, quando Saudades de Matão transformada em sucesso nacional já rendia bons dividendos artísticos e pecuniários, o mesmo Perches resolveu reivindicar sua autoria, estabelecendo-se grande polêmica na imprensa e no rádio.

O assunto mereceu de Almirante rigorosa pesquisa, havendo em seu arquivo variada documentação a favor de Jorge Galati. Há, por exemplo, uma declaração, registrada em cartório, do Sr. Pio Corrêa de Almeida Morais, prefeito de Araraquara em 1904, que afirma ter ouvido muitas vezes naquele ano Galati interpretar a valsa Francana.

Mas, segundo Galati, apareceram ainda no decorrer do tempo outros pretendentes à autoria da valsa, como Antonio Carreri, José Carlos Piedade, Protásio Tomás de Carvalho, José Stabile e Antenógenes Silva, sendo que este último registrou um arranjo sobre o tema popularizada como peça instrumental, Saudades de Matão recebeu letra de Raul Torres em 1938.

Saudades de Matão (valsa, 1904) - Jorge Galati, Antenógenes Silva e Raul Torres - Interpretação: Carlos Galhardo



-------------G--------------- D7--------------------------G
Neste mundo eu choro a dor / Por uma paixão sem fim
--------------------------D7------------------------------- G
Ninguém conhece a razão / Porque eu choro tanto assim
-------------------------D7-------------------- G
Quando lá no céu surgir / Uma peregrina flor
G7-------------------- C--------------------- D7---------------------- G
Pois todos devem saber / Que a sorte me tirou foi uma grande dor
---------D7--------- G---------- D7----------------------- G
Lá no céu junto a Deus / Em silêncio minh’alma descansa
--------D7------------- G
E na terra, todos cantam
---------C----------------- D7---------------------G ----- G7
Eu lamento minha desventura nesta grande dor
C---- G7------- C------------------------ G7
Ninguém me diz / Que sofreu tanto assim
------------------------------------------C------------------ C7
Esta dor que me consome / Não posso viver / Quero morrer
---------------------------------F
Vou partir prá bem longe daqui
------------------------C----- G7------- C
Já que a sorte não quis / Me fazer feliz.



Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Carlos Galhardo: Salão Grenat

Carlos Galhardo
Salão grenat (valsa, 1939) - Francisco Célio e Paulo Barbosa

Disco 78 rpm / Título da música: Salão grená / Autoria: Célio, Francisco (Compositor) / Barbosa, Paulo, 1900-1955 (Compositor) / Carlos Galhardo, 1913-1985 (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1939 / Nº Álbum 34433 / Lado B / Gênero musical: Valsa


E7/5+ ---A--- E7/5+ -------A -------Gb7 ---------Bm
Q u e r o negar-te a saudade/ Chamando curiosidade
------------B7 ------E7 -----------Bm------- E7
O que estou a sentir / Abro a porta temeroso
-------------Bm----------- E7---- Gbm-- B7----- E7
Do impossível e esperançoso / E te rever a sorrir


-------------------A---------------
Num salão Grenat / Paira pelo ar
----------------Bm---- E7----------------- Bm
Nota esmaecida /-------- Um perfume teu
------------------E7 ----------------A--- E7/5+ -----------------A
Resto da canção que foi minha vida /------- --Triste em solidão
----------------------------Bm------------------ B7
Teu piano está como eu estou / Sentindo aumentar
-----------------------------------------E7
Da saudade a dor / De quem me abandonou

----------------------A-----------------
Sei que hás de voltar / Ao salão Grenat
--------------------Bm ---E7 --------------Bm------------- E7
Que era nosso ninho / ------Tornarás a ter todo meu amor
--------------------Em6 -----Gb7 ----------------Bm
Todo o meu carinho /----------- Sei que voltarás
---------------------E7 -------------A--------
Pois hás de lembrar / Que foste feliz
----------------------B7 -------------------E7
Nunca houve alguém / Que quisesse o bem
---------------------A----- F----- A
Que sempre te quis.

Orlando Silva: Rosa

Francisco Alves e Carlos Galhardo deixaram de lançar "Rosa" porque rejeitaram Carinhoso, destinado ao lado "A" do mesmo disco. Sobrou, então, a valsa para Orlando Silva, que lhe deu interpretação magistral. Segundo Pixinguinha, "Rosa" é de 1917 e chamou-se originalmente "Evocação", só recebendo letra muito mais tarde. "O autor dessa letra" - esclarece ainda Pixinguinha - "é Otávio de Souza, um mecânico do Engenho de Dentro (bairro carioca) muito inteligente e que morreu novo". Sobre a gravação original, há um erro de concordância de Orlando, que canta "sândalos dolente".

Aliás, o cantor abandonou esta música após a morte de sua mãe, dona Balbina, em 1968. Era sua canção favorita, e o sensível Orlando jamais conseguiu voltar a cantá-la sem chorar. "Rosa" é uma linda valsa "de breque", mas de difícil interpretação vocal, especialmente para o uso de legatos, já que as pausas naturais são preenchidas por segmentos que restringem os espaços para o cantor tomar fôlego.

Quanto à letra, é também um exemplo do estilo poético rebuscado em moda na época: "Tu és divina e graciosa, estátua majestosa / do amor, por Deus esculturada e formada com o ardor / da alma da mais linda flor, de mais ativo olor / que na vida é preferida pelo beija-flor... '. O desafio de regravar "Rosa" foi tentado por alguns intérpretes, sendo talvez o melhor resultado o obtido por Marisa Monte; em 1990, com pequenas alterações melódicas.

Rosa (valsa, 1917) - Pixinguinha

Disco 78 rpm - Título: Rosa - Autoria: Pixinguinha (Alfredo da Rocha Vianna Filho), 1897-1973 (Compositor) - Silva, Orlando (Intérprete) - Regional RCA Victor (Acompanhante) - Imprenta [S.l.]: Victor, 1937 - Álbum 34181 - Gênero musical: Valsa


D7--G----------------D7----------------------------G
Tu és / Divina e graciosa / Estátua majestosa /Do amor
------------------D7---- B7
Por Deus esculturada / E tomada com ardor / Da alma
---------------Em ----------------- E7----------- Am
Da mais linda flor / De mais ativo olor / Que na vida
---------- A7---------- D7/4 ----- D7
É preferida pelo beija-flor
------- G ------------------- D7----------------------------- G7
Se Deus / Me fora tão clemente / Aqui neste ambiente / De luz
------------------ C--------------------Cm7 ------------------------G
Formada numa tela deslumbrante e bela /O teu coração junto ao meu
------- E7-------- Am--------- D7 --------------------- G
Lanceado, pregado e crucificado / Sobre a rósea cruz / Do arfante peito teu
B7 Em Em7----------Gb7 -------------- Gbm7/-5--------- B7
Tu és / A forma ideal / Estátua magistral / Ò alma perenal
------------------- Em --------------E7--------------------------Am
Do meu primeiro amor/ Sublime amor /Tu és de Deus a soberana
------------ Gb7 -----------------B7
Flor / Tu és / De Deus a criação que em todo o coração
---------------Em ---Em7 --------Gb7------------------ Gbm7/-5
Sepultas o amor / O riso, a fé e a dor / Em sândalos olentes
-------------- B7---------------------E7
Cheios de sabor / Em vozes tão dolentes como um sonho flor
Am ---------------------Em --------------- B7
É láctea estrela / És mãe da realeza / És tudo enfim que tem de
------------------------ Em
belo / Em todo o resplendor / Da santa natureza
D7 -- G --------------- D7
Perdão / Se ouso confessar / Que hei de sempre amar-te
-------- G-------------------- D7-------------------------B7
Oh, flor / Meu peito não resiste / Oh, meu Deus como é triste
------------------Em ------------------------- Em7--------- Am
A incerteza de um amor / Que mais me faz penar / Em esperar
------------- A7-------------------- D7/4 D7-- G
Em conduzir-te um dia ao pé do altar / Jurar/ Aos pés do Oni-
----- D7 ---------------------------- G7------------------C
potente / Em prece comovente / De dor / E receber a unção da
----------Cm7 -------------------- G ----------- E7-------- Am
gratidão / Depois de remir meus desejos / Em nuvens de beijos
--------------- D7------------------ G
Hei de te envolver / Até meu padecer / De todo fenecer . . .



Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34

Carlos Galhardo: Rapaziada do Brás

Largo do Tesouro – 1915 - São Paulo - Fotografia de Guilherme Gaensly

Nenhuma música evoca melhor a velha São Paulo provinciana do início do século do que a valsa "Rapaziada do Brás". Composta em 1917 pelo futuro maestro Alberto Marino, então um menino de quinze anos, "Rapaziada do Brás" se tornaria conhecida no final da década seguinte, quando teve seu primeiro disco. Somente em 1960, a melodia recebeu letra de autoria do filho de Marino, Alberto Marino Júnior, gravada por Carlos Galhardo no mesmo ano.

Muito bem estruturada no gênero em que foi concebida nem parece obra de um principiante -, a composição é essencialmente instrumental, forma em que aparece na maioria das gravações, embora possua letra. Uma homenagem à rapaziada do bairro de infância e adolescência do autor, serviu ainda de inspiração a outras valsas bairristas, como "Rapaziada da Moóca" e "Rapaziada do Bom Retiro". Somente em 1960, a melodia recebeu letra de autoria do filho de Marino, Alberto Marino Jr, gravada por Carlos Galhardo no mesmo ano.

Rapaziada do Brás (valsa - 1917) - Alberto Marino - Interpretação de Carlos Galhardo



-----Em---------- B7--------- Em------------------------------- B7
Lembrar, deixem-me lembrar / meus tempos de rapaz no Brás
das noites de serestas / casais de namorados, e as cordas de um violão
----------------------------------------------------------Em
cantando em tom plangente, / Aqueles ternos madrigais.
------------B7 -------------Em -------------------------E7---- Am
Sonhar, deixem-me sonhar, / lembrando aquele amor fugaz.
------------------------------------B7--------------------- Em
Uma sombra em volta da penumbra / por trás da vidraça
-----------------------------------------B7
faz um gesto lânguido, / cheio de graça
----------------------------------------------Em
imagem de um passado / que não volta mais.

------------B7-------------------------------------------- Em
Tão somente uma recordação / restou daquele grande amor
-------------------B7---------------------- Em
daquela noite de luar / daquela juventude em flor
----------------B7----------------------------------------- Em
E hoje os anos correm muito mais / e a vida já não tem valor

Os Centauros

Caetano Veloso no Festival Internacional da Canção - São Paulo - 1968

Fala-se em "Poder Jovem", na "Jovem Revolução" e um padre de passeata, em seu veemente sermão, chamou Nossa Senhora de "a mãe do Jovem Salvador". Vejam: — é tão importante ser jovem que já se providenciou uma idade promocional para Jesus. Há também os que proclamam a razão da idade. Nada tenho a objetar. Que seja dado o poder aos jovens, e que eles o exerçam, e que façam o mundo à sua imagem e semelhança.

A meu ver, porém, chegou a hora de se falar também da "jovem obtusidade". Que ela existe como uma realidade concreta, que se pode apalpar, farejar, não há dúvida. Basta olhar e faremos a singela, a tranqüila constatação visual. Se me pedirem fatos, eu direi: — "Vamos aos fatos".

Sábado, fiquei em casa. Fazia um frio cadavérico. Tenho um amigo que se refere ao frio em termos de "julgamento moral". Quando a aragem vai gelando os edifícios e as esquinas, ele põe-se a esbravejar:

— "Ah, frio canalha! Ah, frio indecente!".

Para a sua indignação, o frio era "torpe", era "obsceno", era "sórdido".

Sábado, tive também vontade de xingar o frio dessa forma direta, pessoal e crudelíssima. Fiquei vendo televisão, com três suéteres. Ia passar o teipe do Festival da Canção. Não sei se não teria preferido um bangue-bangue.

Mas, vamos lá. Começa o festival com uma panorâmica da platéia. Verificou-se, ao primeiro olhar, que todo mundo lá era jovem. Só rapazes, só mocinhas. É apavorante. No passado ocorria o inverso: — o Brasil era uma paisagem de velhos. Nos bondes, só os velhos vinham sentados; os jovens ficavam de fora, pendurados no balaústre. E as senhoras grávidas pediam para o filho já nascer setuagenário e de guarda-chuva, como o personagem de Gogol.

Hoje, o velho tem vergonha de o ser. O padre de passeata precisa fazer uma plástica em Jesus e remoçá-lo (talvez assim o Salvador se salve, sobreviva etc. etc.). Mas, como ia dizendo: — não havia na platéia um sujeito de meia-idade, uma viúva, ou, como quer a gíria perversa, um coroa. Uma platéia sem coroa e ocupada por uma mocidade ululante e salubérrima. Imaginei que estaria, ali, a melhor juventude paulista.

E era de um óbvio escandaloso a politização dos presentes. Sempre que uma letra fazia uma insinuação política, ou tinha um arroubo ideológico, ou rosnava para os Estados Unidos — a audiência vinha abaixo. Que pasionarias eram as meninas! Lembro-me de uma que assim se manifestava: — tirando os sapatos e batendo com os saltos, um no outro. Ninguém sabia se estava aplaudindo ou vaiando.

Ah, os rapazes, os rapazes! Cavalgavam as cadeiras e atiravam patadas como rútilos centauros.

Mas todas essas impressões paisagísticas são secundárias, irrelevantes. De um altíssimo patético foi a aparição do sr. Caetano Veloso. Ah, esquecia-me de Vandré. Seus versos tinham o seguinte título, de uma malícia ou, melhor dizendo, de uma ironia finíssima: — "Pra não dizer que não falei de flores". E, realmente, para nosso pasmo, ele faz um artigo de fundo contra as flores. Até hoje ainda não sei o que é que o nosso libertário propõe.

Vejamos algumas hipóteses: — quererá ele dizer que a "Grande Revolução" vai acabar com as flores? Ou que só a burguesia mais reacionária aprecia as rosas e, por carambola, a beleza? E que o revolucionário é tão obtuso, tão bestial, tão abjeto que não pode ver uma flor sem chutá-la?

Sim, há várias metáforas no editorial do Vandré e todas absolutamente inescrutáveis. Só uma coisa é certa: — sem que o próprio autor o perceba, tais metáforas são absolutamente contra-revolucionárias.

Mas vejamos o sr. Caetano Veloso. A vaia selvagem com que o receberam já me deu uma certa náusea de ser brasileiro. Dirão os idiotas da objetividade que ele estava de salto alto, plumas, peruca, batom etc. etc. Era um artista. De peruca ou não, era um artista. De plumas, mas artista. De salto alto, mas artista. E foi uma monstruosa vaia.

A menina, já citada, batia com os saltos dos sapatos, em delírio. Mas era um concorrente que vinha, ali, cantar; simplesmente cantar.

Mas os jovens centauros não deixaram. Na minha casa, lembrei-me de uma velha solenidade nazista: — a queima de livros. Imaginei que, a qualquer momento, a guarda vermelha ia subir ao palco para queimar o próprio Caetano Veloso. Não me admiraria nada que, no futuro, os nossos jovens socialistas queimem poetas no meio da rua.

Mas estou aqui fazendo uma defesa inútil de Caetano Veloso. Ninguém reage melhor do que ele mesmo. Quis cantar e esmagaram seu canto. A massa coral repetia, em furiosa cadência, uma obscenidade espantosa. Era o massacre de um artista, um desesperado artista que se propunha a cantar o "É proibido proibir".

A canção era a flor que o nosso Vandré quer expulsar do seu horrendo paraíso socialista. Já nenhum telespectador suportava mais a humilhação, que se transferia para as casas. (E a jovem massa insistia no refrão torpe).

Súbito, os brios de Caetano Veloso se eriçaram mais que as cerdas bravas do javali. Ele começou a falar. Era um contra 1500. E um que dizia a sua feroz mensagem nos trajes mais impróprios para o seu rompante.

Sim, estava de peruca, plumas, batom, salto alto etc. E disse as verdades que estavam mudas, sim, as verdades que precisavam ser ditas — urgentes, inadiáveis e santas verdades. Ainda bem que milhões de telespectadores as ouviram. Se bem me lembro, eis as suas palavras:

— "É isso a juventude? E vocês são políticos? Querem o poder! Vocês não sabem nada, não entendem nada! Analfabetos em política e arte! Se entendem de política como entendem de música, desgraçado Brasil!".

Não me lembro de tudo. Houve um momento em que Caetano Veloso comparou, e com exemplar justiça, as duas vergonhas: — a vaia obscena e a invasão do Teatro Ruth Escobar.

Naquela ocasião, depois do espetáculo de Roda viva, uns quarenta bandidos espancaram o elenco. Havia uma atriz grávida, que gritou: — "Estou grávida!". Levou um chute na barriga. Foi pisada como uma flor do nosso Vandré.

E dizia Caetano Veloso:

— "Vocês não são melhores! São iguaizinhos!".

Os idiotas da objetividade hão de perguntar:

— "E a peruca? E as plumas? E o batom? E o salto alto?".

Eu responderia que qualquer um pode ter uma indignação à Zola. Quando morreu o autor de Germinal, disse alguém, à beira do túmulo:

— "Zola foi um momento da consciência humana".

No teipe de sábado tivemos, pela fúria de Caetano Veloso, um momento da consciência brasileira. E vimos como a sua implacável lucidez acuou e bateu a "jovem obtusidade".

[26/9/1968]


A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Revolucionário de Festival

Em 1968, "Pra não dizer que não falei das flores" era o favorito no público, mas não venceu o festival.

Repito que o grande momento do Festival foi o ódio de Geraldo Vandré. Era o talento ferido. E as vaidades do autor estavam mais eriçadas do que as cerdas bravas do javali. Pouco antes, ao executar o seu número, era o vencedor total. Vocês se lembram dos comícios do Brigadeiro. A massa gritava: — "Já ganhou, já ganhou!".

Também domingo os fiéis de Vandré berraram: — "Já ganhou, já ganhou!".

E, finalmente, quando saiu o resultado, o autor de "Caminhando" foi o maior espanto da terra. Apunhalado por um segundo lugar — um torpe segundo lugar — quase desabou, fisicamente. E, em seguida, rompeu de suas entranhas um ódio que bem merecia estar inserido nas obras completas de William Shakespeare. O leitor, que é um simples, há de pedir um sinal exterior e concreto de sua ira. Não houve tal exteriorização. O ódio de Vandré permaneceu dentro de Vandré.

Mas dizia eu, na confissão de ontem, que as caras não mentem. E a jovem cara crispada de Vandré não fazia nenhum mistério. Bem sei que, da boca para fora, ele pedia aos seus devotos: — "Aplaudam Tom e Chico, como se fosse eu!". Mas a vaia explodiu. Ou por outra: — não sei se era mesmo vaia. Hoje, o povo aplaude como se vaiasse e vaia como se aplaudisse.

Contei o caso da universitária que, em São Paulo, arrancou os sapatos e batia com os saltos um no outro. Ninguém sabe, até hoje, se estava contra ou a favor. Outros assoviam, vaiando ou aplaudindo. E há os que fazem castanholas com a boca. No Maracanãzinho, sujeitos sapateavam como bailarinas de Sevilha.

Cabe então a pergunta: — e foi mesmo injustiça?

Admitamos que sim. Faz de conta que o segundo lugar é pior do que a lanterna. E que "Sabiá" não merecia nem a lanterna. Admitamos tudo isso. Mas, se houve injustiça, Vandré deve ser festejado e não chorado. Seus partidários devem recolher todos os palavrões. E, de fato, não há nada mais promocional do que a injustiça. O "injustiçado" assume uma dimensão inesperada e gigantesca. Quando passa, é lambido com a vista. Só uma coisa me espanta: — é que não tenham carregado o Vandré na bandeja, e de maçã na boca, como um leitão assado.

Todavia, já uma dúvida se insinua no meu espírito. "Para não dizer que não falei de flores" é uma bela canção. Não há dúvida. Bela canção. Mas ainda ontem dizia-me um amigo:

— "Sou contra 'A Marselhesa'! Não topei 'A Marselhesa!'".

Custei a entender que ele falava, justamente, da música de Vandré. E, sem o saber, o meu amigo deu-me a pista exata. Era uma deslavada "Marselhesa". Agora mesmo, ao bater estas notas, vejo toda a cena. Vandré está fazendo a música do Festival. Evidentemente, quer partir para o social, o político, o épico, o homérico, ou sei lá. O Chico, ou o Tom, pode encerrar-se no lirismo íntimo. Mas um rapsodo como o Vandré sonha com a grande comunicação. E, então, quis fazer "A Marselhesa". Eis aí, em rápidas pinceladas, o que foi a concepção, o que foi a execução de sua obra. Perdeu noites, na fremente elaboração. Mas quando acabou a sua "Marselhesa" — saiu-lhe a anti-"Marselhesa". Aí está, como eu dizia, o defeito.

Lenin falou no "ópio do povo". O que o Vandré fez é o que há de mais ópio, de mais sedativo, repousante, embalador, suavíssimo. É o tipo de música que o sujeito deve ouvir na rede, abanando-se com a Revista do Rádio. Quase uma berceuse. E o próprio Vandré a canta em surdina, como se estivesse fazendo o povo dormir.

Repito que nunca se viu uma "Marselhesa" tão pouco "Marselhesa", tão anti-"Marselhesa". Dirá alguém: — "E a letra?". De fato, há a letra. Mas é óbvio que o nosso "injustiçado" fez o libreto para a ópera errada. Há, sim, entre a música e o canto, o feio e cavo abismo das incompatibilidades totais. É só prestar atenção.

Uma coisa não tem nada a ver com outra. E já me parece certo o seguinte: — a sua música é o que há de mais impróprio, de mais ineficaz para resolver as cóleras, sim, as cóleras que dormem nas entranhas populares.

Todavia, o nosso Vandré não foi um caso único. E, súbito, explode na vida brasileira uma nova figura: — o "revolucionário de Festival". Vocês entenderam? Trata-se do herói sem risco. Claro que outros países, e os outros idiomas, também o têm. Foi assim na nova e jovem "Revolução Francesa". Milhões de franceses entraram no movimento. Pois bem. E não morreu ninguém. Não houve um morto e, ouso mesmo dizê-lo, não houve um ferido. Na França, morre-se muito de atropelamento. Mas como os estudantes viraram todos os carros, a "revolução" não teve nem os atropelados dos dias úteis. Eis o óbvio ululante: — o "revolucionário de Festival" não mata, nem morre. Põe entre a sua pessoa e o perigo uma sábia distância.

Por exemplo: — o Roldão. Fez outra "Marselhesa" que se chama "América, América". Vejam vocês: — temos, ali, nas nossas barbas cínicas, Magé. Todos conhecemos Magé. Magé, repito, está diante de nós, fisicamente próxima. Podemos apalpá-la, podemos farejá-la. Lá, de vez em quando, uma ratazana devora um recém-nascido. E vem o Roldão, com seu bigode boliviano, a falar de "América, América". Eis a verdade a um só tempo deplorável e patusca: — o "revolucionário de Festival" não toma conhecimento do Brasil.

Aqui mesmo, nesta coluna, contei um episódio que me pareceu uma obra-prima de alienação. Era uma passeata. E um rapaz empunhava este cartaz: — "Muerte" etc. etc. Adiante, outro: "Independiencia o muerte". E, de repente, graças às nossas esquerdas, o brasileiro se põe a odiar, a matar, a morrer em castelhano.

Eis a pergunta que, em casa, vendo o Festival, eu me fazia: — "Por que o nosso Roldão não vai cantar guarânia, ou bolero, ou tango?". Talvez, um dia, alguém se lembre de medir a distância que há entre as nossas esquerdas e esse pobre-diabo colossal, que é o Brasil. Ninguém apontará um "revolucionário de Festival" que mencione, ainda que de passagem, ainda que de raspão, esta mísera terra.

Vejamos o Vandré. Nem o Brasil, nem o brasileiro entram na sua berceuse.


[2/10/1968]


A Cabra Vadia: novas confissões / Nelson Rodrigues; seleção de Ruy Castro. — São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Vicente Celestino: Ontem Ao Luar (Choro e Poesia)

Ontem ao luar - Por sua semelhança com a canção "Love Story", do filme homônimo, a polca "Choro e Poesia" voltou a ser sucesso na década de 1970. Esse retorno rendeu-lhe mais de dez gravações, só que com um detalhe: todas traziam apenas o título "Ontem ao Luar", que recebeu de Catulo da Paixão Cearense quando, em 1913, o poeta lhe pôs uma letra, à revelia do autor.

E o que é pior, várias dessas gravações tal como edições da partitura, somente registravam o nome de Catulo, omitindo o de Pedro de Alcântara.

Em 1976, graças aos esforços de uma neta de Alcântara, sua autoria foi restabelecida através de uma decisão judicial. "Choro e Poesia" tem duas partes, ambas construídas com variações de um mesmo motivo, usado com muita engenhosidade especialmente na segunda parte, em tom maior.

Ontem ao Luar (Choro e Poesia) (polca, 1907) - Pedro de Alcântara e Catulo da P. Cearense - Interpretação: Vicente Celestino



----Am-------------------------- B7
Ontem ao luar / Nós dois em plena solidão
E7
Tu me perguntaste
-----------------Am
O que era a dor de uma paixão
A7 -------------------Dm
Nada respondi, calmo assim fiquei
B7 -----------------------------------(E7)
Mas fitando o azul / Do azul do céu a lua azul
-------------Am---------------------------- B7
Eu te mostrei, mostrando a ti os olhos meus
------------------------E7--------------- Am
Correr sem ti uma nívea lágrima e assim te respondi
A7----------------- Dm-------------------- Am
Fiquei a sorrir por ter o prazer de ver a lágrima
---(B7)-- (E7)--- Am--- E7
Dos olhos a sofrer

A--------------------- B7
A dor da paixão, não tem explicação
E7------------------ A
Como definir o que só sei sentir
Dm ------------A ------------Gbm
É mister sofrer, para se saber
---------------Bm------ E7 ------A -----E7
O que no peito o coração não quer dizer
A---------------------- B7
Pergunta ao luar, travesso e tão taful
E7 -----------------------A
De noite a chorar na onda toda azul
-------Dm-------------- A-------- Gbm
Pergunta ao luar, do mar a canção
--------------B7------- E7---------- (A) (E7) (A) (E7)
Qual o mistério que há na dor de uma paixão
-----A----------- Gb7------------ Bm
Se tu desejas saber o que é o amor e sentir
----------E7------------------ A------------ Dbm7
O seu calor o amaríssimo travor do seu dulçor
------------------ E7
Sobe o monte a beira mar ao luar
------------E7-------- A
Ouve a onda sobre a areia lacrimar
--------------A------Gb7------ Bm------------------ E7
Ouve o silêncio a falar na solidão do calado coração
----------------A -----------A7
A pena a derramar os prantos seus
D ----------Dm -----A -----------Gb7------- Bm
Ouve o choro perenal / A dor silente universal
-------------E7---------------- A F A
E a dor maior que é a dor de Deus



Fontes: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora Publifolha; A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

Francisco Alves: Nancy

Francisco Alves
Nancy (valsa, 1933) - Luiz Lacerda e Bruno Arelli

Disco 78 rpm / Título da música: Nancy / Autoria: Arelli, Bruno (Compositor) / Lacerda, Luiz (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1945 / Nº Álbum 12626 / Gênero musical: Valsa


(D)
Busquei ansioso um pensamento
-----------Em
Que pudesse traduzir
----------------A7
O que minh’alma fez por ti
-----------------D
Dentro em meu peito assim senti
Tudo que pode oferecer
-----------D7 ------------G
A alma que vibra em mim
--------------Ab°--------- D
É uma canção que idealizei
----------E7 -----A7----- D---- A7/5+
Para poder cantar assim
------D --------------------Em
Ouve esta canção que eu fiz
----------------A7

Pensando em ti

------Em-------- A7--------- D
É uma veneração, Nancy
---------------Em------ A7
Somente poderia a musa traduzir
---------Em----------- A7
Um nome que é poesia
-------D ------D7
Nancy
G------- Ab°--------- D
É a mais linda história de amor
-------------D7
Que conheci
------G---------- Ab°--- D ---------B7
Quando o teu nome assim eu repeti
---Em----- A7 ------D----- A7
Nancy, Nancy, Nancy

------D
Ouve esta canção
------------------Em------------- A7
Que eu mesmo fiz pensando em ti
------Em --------A7 -----D Gm D
É uma veneração, Nancy

Gastão Formenti: Hula

Joubert de Carvalho
Hula (valsa, 1929) - Joubert de Carvalho e Olegário Mariano

Disco 78 rpm / Título da música: Hula / Autoria: Carvalho, Joubert de (Compositor) / Mariano, Olegário, 1889-1958 (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Parlophon, 1929 / Nº Álbum 12982 / Gênero musical: Valsa


Ao teu olhar meu coração se incendeia
Abrindo em luz as candeias do amor
Mas quem sabe se o tempo faz apagar
A maldição da minha dor ...

Hula, Hula
Fala baixinho
E deixa seguir meu caminho
Hula, Hula
Como padeço
Humilhado porque não te esqueço
Tudo na vida eu farei
Para dar-te um dia
Um beijo que nunca te dei ...

O meu perdão
Tu não terás nessa vida
Porque malvada és, fingida demais
O que punge mais fundo
É a recordação de um tempo bom
Que não vem mais ...

Hula, Hula
Tenho desfeito teu sonho
Cá dentro do peito
Hula, Hula
Quanta saudade
Meus olhos parados invade
Como eu seria feliz se esquecer pudesse
O bem que na vida te quis ...

Sílvio Caldas: Nunca Soubeste Amar

Joubert - 1930
Nunca Soubeste Amar (valsa, 1946) - Joubert de Carvalho - Intérprete: Sílvio Caldas

Disco 78 rpm / Título da música: Nunca soubeste amar / Joubert de Carvalho (Compositor) / Sílvio Caldas (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Continental, 1946 / Nº Álbum 15712 / Lado B / Gênero musical: Seresta / Valsa.



Não vejo a minha luz
o meu luar amigo de sempre
Não queria ver na vida
um céu sem estrelas

Meu amor não me compreende
porque as noites que se escoam
são longas, são noites de pranto
Ah! Eu Lamento tanto...
na tristeza dos céus
carregados de nuvens,
que são um presságio
erguidas na imensidão sem destino


Mas oh! meu grande amor
eu preciso, entretanto, dizer-te:
nunca soubeste amar
um beijo iluminar
que me mostrasse um céu eterno
Nunca soubeste amar
sem nuvens pelo azul
vivo a esperar a noite de luar.

Gilberto Milfont: Geremoabo

Joubert de Carvalho
Geremoabo (canção, 1946) - Joubert de Carvalho

Disco 78 rpm / Título: Geremoabo / Autoria: Carvalho, Joubert de (Compositor) / Gaó (Intérprete) / Gilberto Milfont (Intérprete) / Orquestra de Concerto (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 22/05/1946 / Nº Álbum 800434 / Lado A / Gênero: Canção


Vem rompendo a madrugada
Chico Gato destemido
Faz o cerco na calada
Procurando o boi valente
Foi chamado o corredor
Pra uma luta frente a frente

Chico Gato nesse dia
Prometeu a Ana Maria

No mais pura comovente
Sem temer nem mesmo a morte
De trazer pegado à unha
Esse boi alice e forte

Geremoabo
Que tem o rio Irapiranga
Pra molhar a terra seca do lugar
Geremoabo, jura eleitor
É a minha terra
É o meu amor!

Geremoabo
Que tem Maria
Pra um caboclo apaixonar
Por causa dela se matar
Geremoabo, jura eleitor
Aí deixei
O meu amor!

E tomada a posição
Chico Gato espera a hora
Pra arrancada estonteante
Eis que o boi que vive alerta
Rompe o cerco num instante
Pra escapar da pega certa

Desde aí Geremoabo
Conta a história desse boi
Corredor de triste sorte
Que no abismo se jogou
Não foi preso
Teve a morte que o vaqueiro acompanhou...

Geremoabo, que tem o rio....

Orlando Silva: Em Pleno Luar

Joubert - Anos 30
Em Pleno Luar (fox-canção, 1940) - Joubert de Carvalho - Intérprete: Orlando Silva

Disco 78 rpm / Título da música: Em Pleno Luar / Joubert de Carvalho (Compositor) / Orlando Silva (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor, 1940 / Nº Álbum 34621 / Lançamento: Junho/1940 / Gênero: Fox canção.



Depois que o sol no céu se escondeu
A noite, então desceu,
E sobre mim debruçou
O seu negro manto
Pontilhado de outra luz
De muito mais encanto...


Em pleno luar, eu perguntei
Entre as mulheres
Uma que dissesse
Qual a razão
Do amor ser diferente
Ao prender o coração da gente


Em pleno luar me respondeu:
Que as ilusões
Variavam, como a lua.
Do crescente ao minguante
É assim nosso amor
Vive a glória de um instante.

Orlando Silva: Por Quanto Tempo Ainda...

Joubert de Carvalho
Por quanto tempo ainda (valsa, 1939) - Joubert de Carvalho

Disco 78 rpm / Título: Por quanto tempo ainda... / Autoria: Carvalho, Joubert de (Compositor) / Orlando Silva (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1939 / Nº Álbum 34431 / Lado A / Gênero musical: Valsa


Não sei
Por quanto tempo ainda
Esperarei
Por ti, pelos carinhos teus
Por tudo que me vem bailando
Tecendo os sonhos meus.

Talvez
Só por viver à sombra da ilusão
Envolto no silencio frio

Direi
Por quanto tempo ainda
Esperarei, o teu amor, em vão.

Nunca animaste com a fé
Aos que sofrem do mal de amor
Há no teu corpo gelado
A perfídia, do teu encanto
Nunca terás aos teus pés
A ventura da minha dor
Os teus joelhos dobrados um dia
Em pranto, hás de implorar
o Amor...

Orlando Silva: Maria, Maria

Joubert
Maria Maria (valsa, 1940) - Joubert de Carvalho - Intérprete: Orlando Silva

Disco 78 rpm / Título da música: Maria Maria / Joubert de Carvalho (Compositor) / Orlando Silva (Intérprete) / Gravadora: Victor, 1940 / Nº Álbum: 34.621 / Lado A / Gênero musical: Valsa.



Eu sinto que em tua alma,
Há restos de amargura,
Um pingo d'agua brilha nos teus olhos,
É por que tu não tivestes,
Uma aventura.


O teu mal é acreditar,
Em palavras vãs de amor,
Maria Maria, não creias,
Em juras de eterno amor.

Sonho nasceste, na esperança
Sentirás o frio dos desenganos,
Maria, Maria, o mundo,
É uma felicidade,
Sonhar com ela, Maria,
Com ela, felicidade.

Gastão Formenti: Dor

Joubert - 1930
Dor (canção, 1932) - Joubert de Carvalho e Cleómenes Campos - Interpretação: Gastão Formenti

Disco 78 rpm / Título da música: Dor / Joubert de Carvalho (Compositor) / Cleómenes Campos (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Henrique Vogeler (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Brunswick, 1931 / Nº Álbum 10144 / Lado B / Gênero: Canção.



Dor
que trucida minh'alma
e que faz-me chorar
sufocas na garganta
meu soluçar


És companheira sombria
do prazer que floresce
também do amor que não se esquece


Disse alguém que não tens morada
que andas aqui e acolá
tal qual uma abandonada


Onde moras dor cruel, pungente
É na casa da saudade
onde vive tanta gente


Onde moras dor cruel, pungente
É na casa da saudade
onde vive tanta gente

Gastão Formenti: Maringá

É comum no mundo inteiro cidades emprestarem seus nomes a canções. Difícil é uma canção inspirar o nome de uma cidade, como foi o caso de "Maringá". O fato ocorreu em 1947, quando Elizabeth Thomas, esposa do presidente da Companhia de Melhoramentos do Norte do Paraná, sugeriu que a composição desse nome a uma cidade recém-construída pela empresa, e que em breve se tornaria uma das mais prósperas do estado.

O curioso é que a canção jamais teria existido se seu autor Joubert de Carvalho (foto ao lado) não fosse, quinze anos antes, um freqüentador assíduo do gabinete do então ministro da viação, José Américo de Almeida.

Joubert, formado em medicina, pleiteava uma nomeação para o serviço público. Numa dessas visitas, aconselhado pelo oficial de gabinete Rui Carneiro, o compositor resolveu agradar o ministro, que era paraibano, escrevendo uma canção sobre o flagelo da seca que na ocasião assolava o Nordeste.

Surgia assim a toada "Maringá", uma obra-prima que conta a tragédia de uma bela cabocla, obrigada a deixar sua terra numa leva de retirantes. Em tempo: alguns meses após o lançamento vitorioso de "Maringá", Joubert de Carvalho foi nomeado para o cargo de médico do Instituto dos Marítimos, onde fez carreira chegando a diretor do hospital da classe. (Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Vol. 1 - Editora 34).

Maringá (toada, 1932) - Joubert de Carvalho

Disco 78 rpm / Título da música: Maringá / Autoria: Carvalho, Joubert de (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Orquestra Victor Brasileira (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 13/06/1932 / Nº Álbum 33586 / Gênero musical: Canção


A                       Dm 
Foi numa leva que a cabocla Maringá 
               G7                            C    
Ficou sendo a retirante que mais dava o que falar 
        E7                         Am 
E junto dela veio alguém que suplicou 
         F           Dm           E7             A 
Pra que nunca se esquecesse de um caboclo que ficou 
  
   E7          A 
Maringá,  Maringá 
              A7+                           Bbº 
Depois que tu partiste tudo aqui ficou tão triste 
                       Bm 
Que eu "garrei" a imaginar 
               E7 
Maringá,  Maringá 
  
Para haver felicidade é preciso que a saudade 
                    A 
Vá bater noutro lugar 
    G7          Gb7 
Maringá,     Maringá 
                     Bm        B7          E7 
Volta aqui pro meu sertão pra de novo o coração 
                    A 
De um caboclo a sossegar 
  
                            Dm 
Antigamente uma alegria sem igual 
             G7                      C 
Dominava aquela gente na cidade de Pombal 
           E7                            Am 
Mas veio a seca, tudo a chuva foi-se embora 
      F               Dm 
Só restando então as águas 
          E7             A 
Dos meus "'óio" quando chora 
    E7          A 
Maringá,   Maringá 

Recebi hoje, dia 3 de fevereiro, um e-mail comentando o artigo acima que coloquei faz alguns anos no site de músicas antigas da MPB “cifrantiga” e que reproduzo abaixo: “O seu artigo sobre a ligação entre a música e a cidade de Maringá-PR., está muito próximo do correto.

Realmente, José Américo (Ministro da Viação e Obras), tinha como chefe de gabinete o senhor Ruy Carneiro , que mais tarde viria a governador e senador do seu Estado (a Paraíba).

Joubert de Carvalho gostava da boemia e naquele ambiente veio a conhecer e se tornar amigo do senhor Alcides Carneiro (irmão de Ruy Carneiro e também funcionário do Ministério da Viação e Obras), que solteiro e apaixonado por uma namorada chamada Maria, residente na cidade do Ingá (60 km de João Pessoa - PB), compôs a música “Maringá”, narrando o flagelo da seca no nordeste, principalmente na cidade de Pombal, localizada na alto sertão paraibano.

Gostaria de cumprimentá-lo pela narrativa, eis que mesmo na cidade de Maringá, poucas pessoas conhecem a origem do nome da cidade."

Silvano Almeida - Londrina-PR

(um grande abraço pra ti Silvano!)

Gastão Formenti: Zíngara

Gastão Formenti
Zíngara (canção-rumba, 1931) - Joubert de Carvalho e Olegário Mariano

Disco 78 rpm / Título da música: Zíngara / Autoria: Carvalho, Joubert de (Compositor) / Mariano, Olegário (Compositor) / Gastão Formenti (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1931 / Nº Álbum 33469 / Lado B / Gênero musical: Canção



Vem, ó cigana bonita / Ver o meu destino
Que mistérios tem / Tu com os olhos
De quem vê no acaso / O amor da gente
Põe nas minhas mãos / O teu olhar ardente
E procura desvendar / No meu segredo a dor,
Cigana, do meu amor.


Mas nunca digas, / Ó zíngara,
Que ilusão me espera, / Qual o meu futuro.
Só àquela por quem / Vou vivendo assim à toa
Tu dirás se a sorte / Será má ou boa
Para que ela venha / Consolar-me um dia a dor
Cigana, do meu amor.

Paulo Tapajós: De Papo Pro Á

Joubert de Carvalho
Em 1931, os românticos Joubert de Carvalho e Olegário Mariano realizaram uma incursão na área sertaneja com o cateretê "De Papo pro Á". A composição expõe com muita graça a "filosofia" de um caipira esperto que leva a vida pescando e "tocando viola de papo pro á".

Curiosamente, este cateretê vem pelos anos afora sendo cantado com um erro na letra. O fato foi descoberto nos anos cinqüenta pelo pesquisador Paulo Tapajós, que estranhava os versos: "Se compro na feira feijão, rapadura / pra que trabalhar?". Quem compra geralmente trabalha... Foi o próprio Olegário quem lhe esclareceu: "o verso correto é 'se ganho na feira feijão, rapadura'. Acontece que, na primeira gravação, Gastão Formenti cantou 'se compro', cristalizando-se o erro a partir desse disco".

De Papo Pro Á (cateretê, 1931) - Joubert de Carvalho e Olegário Mariano - Interpretação: Paulo Tapajós ("Luar do Sertão - Músicas de Catulo e Joubert", Fontana, 1972)


E
Não quero outra vida
                       B7
Pescando no rio de Gereré
Tem peixe bom
Tem siri patola
            E
De dá com o pé
             B7
Quando no terreiro
Faz noite de luá
E vem a saudade
Me atormentá
Eu me vingo dela
Tocando viola
            E B7 E B7 E
De papo pro á

Se compro na feira
Feijão, rapadura,
              B7
Pra que trabaiá
Eu gosto do rancho
O homem não deve
        E
Se amofiná

(refrão)


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Jorge Fernandes: Pierrot

O teatrólogo Pascoal Carlos Magno procurava uma canção inédita para a abertura de sua peça "Pierrô", prestes a estrear. Além de romântica, a canção deveria explorar o timbre agudo de Jorge Fernandes, o cantor escolhido para interpretá-la. Todos esses requisitos seriam preenchidos por Joubert de Carvalho, que compôs a tempo, sobre uma letra de Pascoal, a dramática canção "Pierrô" ( "Arranca a máscara da face, Pierrô / para sorrir do amor / que passou..."), sucesso no palco e no disco.

Pierrot (valsa-canção, 1932) - Joubert de Carvalho e Paschoal Carlos Magno

Disco 78 rpm / Título da música: Pierrô / Autoria: Carvalho, Joubert de (Compositor) / Magno, Pascoal Carlos (Compositor) / Fernandes, Jorge (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Columbia, 1931-1932 / Nº Álbum 22080 / Lado B / Matriz 381154 / Data de lançamento: março/1932 / Gênero: Canção


(Em)-------------------------- Am
Há sempre um vulto de mulher
------Em-------------------- B7------- E
Sorrindo / Em desprezo à nossa mágoa
-------------------- Gbm---- B7
Que nos enche os olhos d’água

---(E)-------- E------------------------ B7
Pierrot, Pierrot ! ... / Teu destino tão lindo
-----------------------------Gbm
É sofrer, é chorar toda a vida
----------------B7------------ B7/5--------- B
Por amor, do amor, de alguém ... de alguém
--------E7----------------- A------- Db°
Arranca a máscara da face, Pierrot,
------------E -------B7---- E----- Em
Para sorrir do amor / Que passou

----------------------------Am------- Em----------- B7----- E
Deixar de amar não deixarei / Porque o amor feito saudade
--------------- Gbm---B7----- (E)------- E
É a maior felicidade /------- Pierrot, Pierrot ! ....

Carmen Miranda: Ta-Hi (Prá Você Gostar de Mim)

Embora pouco afeito ao gênero, foi numa marchinha que Joubert de Carvalho pensou no momento em que, apresentado a Carmen Miranda, prometeu uma música para ela gravar. E essa marchinha, feita em menos de 24 horas, chamou-se "Pra Você Gostar de Mim", título logo substituído pelo público por "Taí", a expressão com que se inicia o seu estribilho.

Na verdade, ao procurar criar uma música que tivesse tudo a ver com a personalidade da jovem cantora, Joubert acertou em cheio, pois a marchinha, além de tornar Carmen conhecida em todo o país, acabou por constituir um marco em sua carreira, acompanhando-a até o fim da vida.

Lançada às vésperas do carnaval de 30, "Taí" foi sucesso durante o ano todo, sendo ainda uma das músicas mais cantadas no carnaval de 31, até mesmo mais do que no de 30.

Ta-hi (Pra Você Gostar de Mim) - (marcha/carnaval, 1930) - Joubert de Carvalho - Intérprete: Carmen Miranda

Disco 78 rpm / Título da música: Pra você gostar de mim (taí) / Autoria: Carvalho, Joubert de (Compositor) / Miranda, Carmen, 1909-1955 (Intérprete) / Orquestra Victor (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1930 / Nº Álbum 33263 / Gênero musical: Marcha


Am-- Dm--------------------------------- Am
Tá-hi / Eu fiz tudo pra você gostar de mim
-------------------------------------------E7
Oh meu bem / Não faz assim comigo não
------------------------------------------------Am
Você tem, você tem / Que me dar seu coração

------------------------------------E7
Meu amor que não posso esquecer
----------------------------------Am
Se dá alegria, faz também sofrer
---------Dm ------------------Am
A minha vida foi sempre assim
-------------------E7------------------- Am
Só chorando mágoas.....que não tem fim

-----------------------------------E7
Essa história de gostar de alguém
--------------------------------Am
Já é mania que as pessoas tem
---------Dm----------------- Am
Se me ajudasse Nosso Senhor
---------------E7 -------------Am
Eu não pensaria mais no amor



Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Francisco Alves: Juriti

Joubert - 1930
Jurity (maxixe-canção, 1927) - Joubert de Carvalho - Intérprete: Francisco Alves

Disco 78 rpm / Título da música: Juriti / Carvalho, Joubert de (Compositor) / Alves, Francisco Alves (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1927 / Nº Álbum 10078 / Lado A / Gênero musical: Maxixe.



Nesta gaiola / trouxe pra ti
Meu coração / a juriti
Que apanhei / lá no sertão...


Ó juriti / ó pombinha do amô
Bem-te-vi / quando voô...


O soluçá da juriti / é a confissão
Quando por ti / linda morena tenho paixão


Ó juriti / ó pombinha do amô
Bem-te-vi / quando voô...


E a gaiolinha / deixô escapá
A avezinha / pra nunca mais
Podê cantá / meus tristes ais.


...........................................................

Outra versão, talvez a original, em ritmo de canção:

Juriti que arrulha triste, / Põe tristeza na amplidão,
E minh'alma não resiste, / Chora com meu coração.

Juriti, que tanto arrulhas, / Por que choras tanto assim,
Se são mágoas que debulhas, / Vem chorar, junto de mim.

Juriti... Juriti, / Onde vai teu arrulhar,
E a saudade que maltrata, / De que vale soluçar,


Deixa o ninho, deixa a mata, / Vem aqui me consolar,
Juriti... Juriti, / Vem aqui me consolar.