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sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Elis Regina e Toots Thielemans: Wave (Vou Te Contar)

Tom Jobim
Parcialmente criado em Los Angeles, mas gravado na Costa Leste, nos estúdios Rudy Van Gelder (Englewood Cliffs, Nova Jersey), em 11, 23, 24 de maio e 15 de junho de 1967, novamente para Creed Taylor, "Wave" foi o quarto LP solo americano de Tom e o terceiro com arranjos de Claus Ogerman.

Dando título ao disco, um tema que não sugere ondas e ondulações apenas no título, mas que de outras coisas passaria a tratar quando, com letra em português, ganhou o subtítulo de "Vou te contar", única contribuição de Chico Buarque, que se sentiu inibido para escrever os demais versos que Tom lhe encomendara (Fonte: site oficial do Tom Jobim).

Wave (1968) - Tom Jobim - Intérpretes: Elis Regina e Toots Thielemans

LP Aquarela Do Brasil - Elis Regina e Toots Thielemans / Título da música: Wave / Tom Jobim (Compositor) / Elis Regina (Intérprete) / Toots Thielemans (Intérprete) / Gravadora: Philips (Holanda) / Ano: 1969 / Nº Álbum: 850 069 PY / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Samba / Bossa Nova / MPB.

Tom:C
Intro: C7+/9

C7+/9            Abº                 Gm7
Vou te contar, os olhos já não podem ver
C7/9-       F7+    Fm6            E7/13 E5+/7
Coisas que só o coração pode entender
Em7  A7/9-     D7/9
Fundamental é mesmo o amor
Ab7/9        G7/9-     Cm7/9
É impossível ser feliz sozinho

          C7+/9 Abº                   Gm7
O resto é mar, é tudo que eu nem sei contar
C7/9-       F7+           Fm6          E7/13 E5+/7
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Em7   A7/9-    D7/9
Fundamental é mesmo o amor
Ab7/9          G7/9-  Cm7/9
É impossível ser feliz sozinho

Fm7        Bb/Ab       Gm7
Da primeira vez era a cidade
Gb/Ab        Ab/Gb        Fm7
Da segunda, o cais e a eternidade
F/G        C7+/9 Abº                     Gm7
Agora eu já sei da onda que se ergueu no mar
C7/9-     F7+         Fm6           E7/13 E5+/7
E das estrelas que esquecemos de contar
Em7   A7/9-       D7/9
O amor se deixa surpreender
Ab7/9          G7/9- Cm7/9 C6/9/11+
Enquanto a noite vem nos envolver

João Gilberto: Trenzinho (Trem de Ferro)

Trem de ferro (marcha, 1943) - Lauro Maia - Interpretação: João Gilberto

LP João Gilberto / Título da música: Trem De Ferro / Lauro Maia (Compositor) / João Gilberto (Intérprete) / Gravadora: Odeon / Ano: 1961 / Nº Álbum: MOFB 3202 / Lado B / Faixa 2 / Gênero musical: Marcha.


Tom: G7+

  G7M       F7M       G7M
O trem blim blom blim blom
      F7M         G7M   F7M   G7M   F7M
Vai saindo da estação
  C7M   C#º   Dm7
E eu
      G7      C6/G
Deixo meu coração
          Am6
Com pouco mais
Com pouco mais
Com pouco mais
                   G7M   G7   F#7   F7   E7
Lá bem longe o meu bem
             Am7
Acenando com lenço
               A7
Bandeira da saudade
Am6    G7M
Muito além
          Am7
Acelera a marcha
  Am6          G6
O trem pelo sertão e eu
           B7/F#
Só levo saudade
           Em7
No meu coração
                    C7M
Lá na curva o trem apita
Desce a serra
       C#º    Bm7
E a saudade aumenta
    E7/9-        Am7
Uma coisa me atormenta
      Am6         G6
Vem falar do meu amor

Sylvia Telles: Só em Teus Braços


Só em teus braços (samba, 1959) - Tom Jobim - Interpretação: Sylvia Telles

LP Amor de Gente Moça / Título da música: Só em teus braços / Tom Jobim (Compositor) / Sylvia Telles (Intérprete) / Gravadora: Odeon / Ano: 1959 / Álbum: MOFB 3084 / Lado B / Faixa 5 / Gênero musical: Samba.


Tom: Amaj7 (A7+)
Amaj7   A6
Sim,
Bm7         Bm6
Promessas fiz,
C#m7                C#7/+5
Fiz projetos, pensei tanta coisa,
Dmaj7      Dm6
E agora o coração me diz
C#m7                   Cdim
Que só em teus braços, meu bem,
Bm7       E7/9
Eu ia ser feliz
   C#m7                 F#7/+5
Eu tenho esse amor para dar,
Bm7/9      E7/-9
O que é que eu vou fazer?

               Amaj7   A6
Eu tentei esquecer
Bm7       Bm6
E prometi,
C#m7                   C#7/+5
Apagar da minha vida este sonho,
Dmaj7     Dm6
E vem o coração e diz
C#m7                F#m7
Que só em teus braços, amor,
Bm7       Adim
Eu ia ser feliz
Amaj7               F6/A
Que só em teus braços, amor,
Amaj7
Eu posso ser feliz

Os Cariocas: Só Danço Samba

João Gilberto
Integrando a derradeira leva de produções da dupla Tom e Vinicius, “Só Danço Samba” é a primeira composição bossa nova que faz referência explícita ao ato de dançar. Caiu assim como uma luva no repertório dos pocketshows, que o dançarino e coreógrafo americano Lennie Dale — o “inventor” da dança da bossa nova — apresentava no Beco.

“Só Danço Samba” era como se tivesse sido feito para esse fim, inspirando a coreografia de movimentos de braços e quadris, que Lennie depois ensinaria a Elis Regina. Entretanto, como se sabe, não seria no Beco e sim no Au Bon Gourmet, abrindo o show “Encontro”, nas vozes de João Gilberto e do quarteto Os Cariocas, que se deu a estréia de “Só Danço Samba”. Aliás, esse arranjo cantado no espetáculo seria consagrado no elepê do conjunto lançado em 1963.

A composição é quase um blues, a partir de sua simplicidade melódica e do impulso rítmico sincopado no verso “vai, vai, vai, vai, vai”. Harmonicamente, também se aproxima desse gênero, com os característicos acordes de tônica, subdominante e dominante presentes, mais um motivo para estimular o improviso. A letra, muito simples e direta, exalta a superioridade do samba sobre o twist, o calipso e o chá-chá-chá, um tema, digamos, não muito original.

Mas, “Só Danço Samba” fez sucesso, sendo lançado nos Estados Unidos por Tom e João, o primeiro em seu disco instrumental para a Verve e o segundo no álbum Getz/Gilberto, ambos gravados em 1963 (A Canção no Tempo – Vol. 2 – Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello – Editora 34).

Só danço samba (samba, 1963) - Vinícius de Moraes e Tom Jobim - Interpretação: Os Cariocas.

LP A Bossa dos Cariocas / Título da música: Só danço samba / Tom Jobim (Compositor) / Vinícius de Moraes (Compositor) / Os Cariocas (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1963 / Álbum: P 632.152 L / Lado B / Faixa 2 / Gênero musical: Samba / Ficha técnica: Quartera, Badeco, Luis e Severino Filho.

D7M/9                     G7/9
      Só danço samba, só danço samba
E7/9
      Vai vai vai vai vai
Em7/9                     A7/13        D7M/9  G7/9
      Só danço samba, só danço samba  vai
D7M/9                     G7/9
      Só danço samba, só danço samba
E7/9
      Vai vai vai vai vai
Em7/9                     A7/13        D7M/9  
      Só danço samba, só danço samba  vai

Am7/9         D7(9/13)    G7M/9
Já dancei o twist       até demais
 E7/9                              
Mas, não sei, me cansei  
      Em7/9     F7/9    Em7/9  A7/13
Do calipso ou chá-chá-chá

Solo.:D7M/9 Eb7M/9 D7M/9 Eb7M/9 E7/9 Eb7M/9

D7M/9                     G7/9        E7/9
      Só danço samba, só danço samba vai
Em7/9                     Eb7M/9      D7M/9
      Só danço samba  só danço samba vai

Dalva de Oliveira: Segredo


Lançado por Dalva de Oliveira em julho de 47 e, um mês depois, por Nelson Gonçalves, "Segredo" se tornou um dos maiores sucessos do ano. Sucesso, aliás, que contribuiu para popularizar a expressão "O peixe é pro fundo das redes, segredo é pra quatro paredes", citada na primeira parte: "Seu mal é comentar o passado / ninguém precisa saber o que houve entre nós dois / o peixe é pro fundo das redes...".

De estilo dramático/sentimental, como tantos outros sambas que integram a vertente principal da obra de Herivelto Martins, "Segredo" tem segunda parte de Marino Pinto, feita a pedido de Dalva. "O Marino fez aqueles versos à minha revelia" - esclarece Herivelto - "mas , ficaram tão bons que aceitei imediatamente".

Segredo (samba-canção, 1947) - Herivelto Martins e Marino Pinto

Disco 78 rpm / Título da música: Segredo / Autoria: Martins, Herivelto (Compositor) / Pinto, Marino (Compositor) / Oliveira, Dalva de (Intérprete) / Orquestra Odeon (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1947 / Nº Álbum 12792 / Lado A / Gênero musical: Samba canção



---------A --------------------Ab7
Seu mal é comentar o passado
---------A ------------Gb7
Ninguém precisa saber
-----------Bm---- Gb7---- Bm
O que houve entre nós dois
-------D--------------------- Dm
O peixe é pro fundo das redes
------A ---------------------Gb7
Segredo é pra quatro paredes
---------Bm------------------ E7
Não deixe que males pequeninos
------------------A-------------------- Gb7
Venham transformar os nossos destinos

-------D --------------------Dm
O peixe é pro fundo das redes
-------A-------------------- Gb7
Segredo é pra quatro paredes
------Bm ---------------E7
Primeiro é preciso julgar
---------------------A
Pra depois condenar

------E------------------------------ A
Quando o infortúnio nos bate à porta
---------A7 -----------------D
E o amor nos foge pela janela
---------Eb0-------- A-------- Gb7
A felicidade para nós está morta
----------B7--------------- E7
E ninguém pode viver sem ela
----D ------------Eb0 ----------A--------- Gb7
Para o nosso mal não há remédio, coração
------------------Bm------- E7-------- A
Ninguém tem culpa da nossa desunião



Fontes: Instituto Moreira Salles - Acervo musical; A Canção no Tempo - Volume 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Dorival Caymmi: Saudade da Bahia

"Saudade da Bahia" nasceu numa tarde calorenta do verão de 1947. "Eu estava sozinho num bar perto de minha casa no Leblon, o Bar Bíbi, chateado com a agitação da cidade, quando me ocorreu a ideia", recorda Dorival Caymmi (foto). "Era uma ideia tão melancólica - logo eu que sou otimista - que resolvi guardar a canção para mim, mostrando-a apenas a alguns amigos mais íntimos."

Daí se passaram dez anos até o dia em que Aloísio de Oliveira, um desses amigos, convenceu o compositor a gravar "Saudade da Bahia". Diretor artístico da Odeon na ocasião, Aloísio estava ansioso para faturar na esteira do sucesso de "Maracangalha" e, como Caymmi não tinha composições novas, sugeriu: "E por que não aquela que fala de saudades da Bahia?" Assim, programada às pressas, "Saudade da Bahia" foi gravada, batendo recordes de vendagem, o que lhe proporcionou um prêmio especial de uma cadeia de lojas de São Paulo.

Saudade da Bahia (samba, 1957) - Dorival Caymmi

Disco 78 rpm: Título da música: Saudade da Bahia / Autoria: Caymmi, Dorival, 1914-2008 (Compositor) / Caymmi, Dorival (Intérprete) / Peracchi, Leo (Acompanhante) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 26/02/1957 / Nº Álbum 14198 / Lado A / Gênero: Samba


C------------- Bm7/-5---- E7 -----Am7 ----Gm7 ----C7
Ai ai que saudade eu tenho da Bahia
F ---------------A7 -----------------Dm7 ------G7
Ai se eu escutasse o que mamãe dizia
-----F ------------------- B7---- Em7
“Bem não vá deixar a sua mãe aflita
------------A7----------------- Dm7
A gente faz o que o coração dita
---------------A9- --------------D7/9------ G7
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão”

C --------------Bm7/-5 ---E7 -----Am7 ----Gm7 ----C7
Ai se eu escutasse hoje eu não sofria
F -----------A7 -------------------Dm7 ------G7
Ai essa saudade dentro do meu peito
F ----------------------B7------ Em7
Ai se ter saudade e ter algum defeito
-------------A7 --------------Dm7
Eu pelo menos mereço o direito
-------------G7 --------------------C6/9 ------A9-
De ter alguém com que eu possa me confessar

-----Dm7 ------------G7 ---------------Em7
Ponha-se no meu lugar e veja como sofre
------------------A9- --------Dm7---------- G7
Um homem infeliz ----que teve que desabafar
--------------------C6/9 ---------------Em7 ------A9-
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Dm7--------------- G7
Vejam que situação
-------------------Em7--------------- A9-
E vejam como sofre um pobre coração
Dm7------------------- G7
Pobre de quem acredita
---------------------C6/9
Na glória e no dinheiro para ser feliz



Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Anjos do Inferno: Rosa Morena


Rosa Morena (samba, 1942) - Dorival Caymmi

Disco 78 rpm / Título da música: Rosa Morena / Autoria: Caymmi, Dorival, 1914-2008 (Compositor) / Anjos do Inferno (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Columbia, 1942 / Nº Álbum 55380 / Lado B / Gênero musical: Samba

G7+   Am7     D7              G7+ 
Rosa Morena, onde vais morena Rosa  
          Am7       Bm7          E7/5+        Am7 
Com essa rosa no cabelo e esse andar de moça prosa  
 D7              G7+ 
Morena, morena Rosa  
 G                   G5+/7    C7+ 
Rosa morena o samba está esperando  
  Cm7      F7/9   G7+ 
Esperando pra te ver  
 Bm5-/7              E5+/7     Am7 
Deixa de lado esta coisa de dengosa  
     Cm          G7+ 
Anda Rosa vem me ver  
                    C/D 
Deixa da lado esta pose  
         Bm7        E5+/7 
Vem pro samba vem sambar  
     Am7/9         D7         G7+ 
Que o pessoal tá cansado de esperar 
    E5+/7       Am7/9         D7         G7+ 
Ô Rosa, que o pessoal tá cansado de esperar 
    E5+/7           Am7/9         D7         G7+ 
Morena Rosa, que o pessoal tá cansado de esperar 
    E5+/7       Am7/9         D7         G7+ Am7 D7 G7+ 
Viu Rosa, que o pessoal tá cansado de esperar 

João Gilberto: Presente de Natal


Presente de Natal (samba, 1961) - Nelcy Noronha - Interpretação: João Gilberto

LP João Gilberto / Título da música: Presente De Natal / Nelcy Noronha (Compositor) / João Gilberto (Intérprete) / Gravadora: Odeon / Ano: 1961 / Nº Álbum: MOFB 3202 / Lado B / Faixa 4 / Gênero musical: Samba / Bossa Nova.


Tom: Bbmaj

Intro: Bbmaj7 A7 G#7 G7 Cm7 F7/+5 Bbmaj7 A+5

  Bbmaj7 Bb6   Bbm7          Cm7   Cm6  Bbmaj Bb6
Papai  Noel me deu um bom presente de Natal
  Gm7                    Cm7/G F7/+5  Bb6/9
Voce embrulhadinha num papel monumen- tal
  Bbmaj7 Bb6   Bbm7          Cm7   Cm6  Bbmaj7 Bb6
Papai  Noel me deu um bom presente de Natal
  Gm7                    Cm7/G F7/+5  Bb6/9
Voce embrulhadinha num papel monumen- tal
Cm6          Bbm7 Dbm6        Bbmaj7 Bb6
Quem ganha boneca é menina eu sei
Dm7    G7    Cmaj7 Dbdim D7/4 G7    Dbm7 F#7/6 F#7
Mas eu sou menino        e tambem ganhei ...
Dm7     G7/6 G7 Cmaj7 Dbdim
Nao foi u-   ma bola     
       Dm7/-5      Em7/-5 A7/-9/+5 A7/+5
nem sequer um cavalinho
Fmaj7     F#dim Em7     A7/+5 A7
Mas foi voce   amor que ve-   io
  Am6     G#dim        Dm7/-5 Cmaj7
entao pra ser o meu benzinho
Bmaj7 Cmaj7 F6 Fm6 Cmaj7

Bando da Lua: Samba da Minha Terra

Bando da Lua - Foto: Revista CARIOCA, Abril/1936

Conta Dorival Caymmi que "'O Samba de Minha Terra' foi inspirado nos sambas de roda da Bahia, onde se cantam versos referentes ao 'bole-bole' e ao 'requebrado', sugestões nascidas do movimento sensual das ancas das sambistas". São de sua segunda-parte os famosos versos: "Quem não gosta de samba / bom sujeito não é / é ruim da cabeça/ ou doente do pé".

Pertencente à fase inicial da carreira do autor, seria lançado pelo Bando da Lua em sua visita ao Brasil em 1940. Foi, aliás, o último fonograma registrado pelo Bando no Brasil. "O Samba de Minha Terra" foi regravado por João Gilberto em seu elepê de 1961, com o conjunto de Valter Wanderley, num arranjo que se inicia com uma marcante introdução de João, imitando um tamborim, numa demonstração inequívoca de que a bossa nova era fortemente enraizada no balanço do samba. João ainda gravaria "O Samba de Minha Terra", ao vivo, no Carnegie Hall, em 1964.

O samba da minha terra (samba, 1940) - Dorival Caymmi

Disco 78 rpm / Título da música: Samba da minha terra / Autoria: Caymmi, Dorival, 1914-2008 (Compositor) / Bando da Lua (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Columbia, 1940 / Nº Álbum 55245 / Lado A / Gênero: Samba

Tom: G
Introdução: D7/9+

Em              Am
Samba da minha terra
D7    Bm
Deixa a gente mole
Em       Am
Quando se dança
D7    Bm
Todo mundo bole
C7+        Bm
Quem não gosta de samba
E7/9-          A7/13
Bom sujeito não é
Am5-/7
É ruim da cabeça
D7           G7+
Ou doente do pé
C7+         Bm
Eu nasci com o samba
E7/9-         A7/13
No samba me criei
Am5-/7
E do danado do samba
D7           G7+
Nunca me separei


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

João Gilberto: O Pato

João Gilberto
“O Pato” fazia parte do repertório dos Garotos da Lua desde o final dos anos quarenta. Entretanto, jamais foi gravado pelo conjunto e, provavelmente, permaneceria inédito em disco se não tivesse caído nas graças de João Gilberto. Ex-crooner do grupo, João apaixonara-se por este samba inusitado e fez questão de incluí-lo em seu segundo elepê.

Jaime Silva (1921-1973) era um mulato alto, elegante e simpático”, segundo Ruy Castro no livro Chega de saudade. Alagoano de nascimento, mas morando no Rio desde menino, era sapateiro do serviço de intendência do Exército, além de pandeirista e eventual compositor, nas horas vagas. Costumava namorar sua futura esposa, Maria, no Campo de Santana, Zona Centro do Rio de Janeiro, onde observando patos e marrecos se esbaldarem no laguinho local prometia, contemplativo: “ainda vou fazer uma música com esses patinhos...”.

E isso de fato logo aconteceu, quando ele compôs, com a parceira Neuza Teixeira, “Aves no Samba”, título que modificaria para “O Pato”, por sugestão de João Gilberto. Como “Lobo Bobo”, “O Pato” acabou caracterizando o lado galhofeiro da bossa nova, concentrado na letra que descreve a exótica cena de um quarteto vocal, formado pelo pato, o marreco, o ganso e o cisne ensaiando à beira da lagoa o “Tico-Tico no Fubá”.

Além da graciosa interpretação do João, contribuiu para o sucesso da canção o saboroso arranjo timbrístico de Tom Jobim, elaborado com o cantor nos dez dias de janeiro de 1960 passados no sítio em Poço Fundo onde o disco foi concebido.

Destaca-se nesse arranjo um contraponto da flauta (respondendo às palavras “o Tico-Tico no Fubá”) e do clarone, com intervenções tão marcantes aos “qüem-qüem”, que suas frases terminaram por se incorporar à própria composição. O final em fade-out é um dos momentos mais deliciosos da bossa nova, com possibilidades de variações harmônicas e de improvisos que parecem não ter fim. Não foi assim à toa que Jobim escreveu na contracapa desse álbum: “E tudo foi feito num ambiente de paz e passarinho. P.S. — As crianças adoraram ‘O Pato’.” (A Canção no Tempo - Vol. 2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Ed. 34).

O pato (samba bossa, 1960) - Jaime Silva e Neuza Teixeira - Intérprete: João Gilberto

LP O Amor Sorriso e a Flor / Título da música: O pato / Teixeira, Neuza (Compositor) / Silva, Jaime (Compositor) / Gilberto, João (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1960 / Nº Álbum MOFB 3151 / Lado B / Faixa 2 / Gênero musical: Samba.

Intro: (D6/9)

D6/9                     E7/9
O pato vinha cantando alegremente, quém, quém 
                     Em7/9     A6/7
Quando um marreco sorridente pediu 
                       D6/9
Pra entrar também no samba, no samba, no samba
  D6/9                         E7/9
O ganso gostou da dupla e fez também quém, quém 
                         Em7/9       A6/7
Olhou pro cisne e disse assim "vem, vem" 
                      D6/9 G6/7 D6/9        D7/9
Que o quarteto ficará bem, muito bom, muito bem
             G7+
Na beira da lagoa foram ensaiar
       E7/9         A6/7     D6/9 D7/9
Para começar o tico-tico no fubá
          G7+      Gm6        D7+/F# D7/9
A voz do pato era mesmo um desacato
          G7+       Gm6       D7+/F# D7/9 G7+
Jogo de cena com o ganso era mato 
         Gm6      D7+/F#                E7/9
Mas eu gostei do final quando caíram n'água 
 A6/7          D6/9
E ensaiando o vocal 
(D6/9 E7/9 Em7/9 A6/7)
quém, quém, quém, quém

quém, quém, quém, quém

quém, quém, quém, quém

Vinícius de Moraes: O Astronauta


O Astronauta (samba, 1963) - Baden Powell e Vinícius de Moraes - Interpretação: Vinícius de Moraes

LP Vinicius & Odette Lara / Título da música: O Astronauta / Vinícius de Moraes (Compositor) / Baden Powell (Compositor) / Vinícius de Moraes (Intérprete) / Gravadora: Elenco / Ano: 1963 / Nº Álbum: ME-1 / Lado B / Faixa 3 / Gênero musical: Samba / Bossa Nova.


D6/9           E7/9  
  Quando me pergunto 
     Em7/9     A7/13 
Se você existe mesmo, amor 
D6/9            E7/9 
  Entro logo em órbita 
       Em7/9     A7/13 
No espaço de mim mesmo, amor 
F#m7(b5)      B7(b9)  
Será que por acaso 
  Em7             Gm6 
A flor sabe que é flor 
            F#m7 
E a estrela Vênus 
       Bm6 
Sabe ao menos 
       Em7/9       A7/13 
Porque brilha mais bonita, amor 
   
D6/9              E7/9  
  O astronauta ao menos 
          Em7/9          A7/13 
Viu que a Terra é toda azul, amor 
D6/9           E7/9 
  Isso é bom saber 
        Em7/9          A7/13 
Porque é bom morar no azul, amor 
    
F#m7(b5)      B7(b9)  
Mas você, sei lá 
  Em7         Gm6  F#m7 
Você é uma mulher,    sim 
Bm6     Em7/9 A7/13  D7M  
 Você é linda porque é 
  Em7         Gm6  F#m7 
   sim 
Bm6     Em7/9 A7/13  D7M 
 Você é linda porque é

João Donato e Seu Conjunto: Minha Saudade



Minha Saudade (samba bossa, 1959) - João Donato e João Gilberto - Intérprete: João Donato e Seu Conjunto

LP Dance Conosco / Título da música: Minha saudade / Donato, João (Compositor) / João Donato e Seu Conjunto (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Copacabana, 1959 / Nº Álbum CLP 11171 / Lado B / Gênero musical: Samba.


C7M(9)        Dm7           Em7 
Minha saudade é saudade de você 
     A7(b13)           Dm7(9) 
Que não quis levar de mim 
    G7(b13)     C7M(9) 
A saudade de você 
  C7M(9)           Dm7              Em7 
E foi por isso que tão cedo me esqueceu 
  A7(b13)    Dm7(9)    G7(b13)       C6 
Mas eu tenho até hoje a saudade de você 
Dm7        G7            Cm7          F7 
Eu já me acostumei a viver sem teu amor 
Bbm7        Eb7      Ab7M                G7 
Mas só não consegui foi viver sem ter saudade 

João Gilberto: Maria Ninguém

Maria Ninguém (samba, 1959) - Carlos Lyra - Intérprete: João Gilberto

LP Chega de Saudade / Título da música: Maria Ninguém / Lyra, Carlos (Compositor) / João Gilberto (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1959 / Nº Álbum MOFB 3073 / Lado A / Faixa 6 / Gênero musical: Samba.


Introdução: A7/13

Pode ser que haja uma melhor, pode ser
Pode ser que haja uma pior, muito bem
Mas igual à Maria que eu tenho
No mundo inteirinho igualzinha não tem

D7+    B7/9- Em7  Em6       D7+      B7/9- Em7
Maria Ninguém, é Maria e é Maria meu bem
Em6          D7+
Se eu não sou João de nada
D7/5+        G7+      G#º F#m7 B7/9 E13 E5+/7 E7 Eº Eº13
Maria que é minha é Maria Ninguém

     D7+    B7/9- Em7  Em6           D7+    B7/9- Em7
Maria Ninguém é Maria como as outras também
    Em6              D7+
Só que tem que ainda é melhor
      G#m7     C#7    F#7+
do que muita Maria que há por aí
  D#m7      Bm7     E7       A7+
Marias tão frias cheias de manias,
  A#º    Bm7       E7       Em7  A7
Marias vazias pro nome que têm

    D7+    B7/9- Em7  Em6            D7+       B7/9- Em7
Maria Ninguém é um dom que muito homem não tem
Em6         D7+       D7/5+
Haja visto quanta gente que chama
G7+    G#º      F#m7 B7/9 E5+/7 A5+/7
Maria e Maria não vem 

    D7+     B7/9- Em7 Em6      D7+      B7/9- Em7
Maria Ninguém, é Maria e é Maria meu bem
Em6           D7+
Se eu não sou João de Nada
D5+/7        G7+      Gm6   D7+  A#7+ D#7+ G#7+ D#7+ D7+
Maria que é minha é Maria Ninguém

Mário Reis e Mariah: Joujoux e Balangandans


Joujoux e balangandans (marcha/carnaval, 1939) - Lamartine Babo

Disco 78 rpm / Título da música: Joujoux e balangandans / Autoria: Babo, Lamartine, 1904-1963 (Compositor) / Mariah (Intérprete) / Mário Reis (Intérprete) / Kolman, I (Acompanhante) / Orquestra do Cassino da Urca (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Columbia, 26/07/1939 / Nº Álbum 55199 / Gênero musical: Marcha

Intro: E7/9- 

   A6       F#5+/7
Jou Jou, Jou Jou
Bm7 Fº A7+ F#5+/7 Bm7 Fº
Que é meu Balangandan 
 F#5+/7
Aqui estou eu 
B7/9     F#m
Aí estás tu
       B7/9
Minha Jou Jou
         Bm5-/7 E7/9-
Meu Balangandan
    A6 F#5+/7 Bm7 Fº A7+   F#m7    Bm7  Fº
Nós dois depois no sol do amor de manhã
    F#7    F#5+/7     Bm7 Dm7
De braços dados, dois namorados
   A7+
Já sei
    E6/7
Jou Jou
     A7+
Balangandan
Bm7      E7/9 A7+     A6
Seja em Paris ou nos Brasis
 F#7    F#5+/7   D7+/9
Mesmo distantes somos constantes
D#5-/7   G#5+/7   C#m7   F#7
Tudo nos une, que coisa rara
    Bm7        E6/7  A7+
É o amor, nada nos separa

Francisco Alves: Izaura

Herivelto Martins
Tudo o que Herivelto Martins compunha nos anos quarenta era logo gravado e, quase sempre, transformado em sucesso. Houve até carnavais, como o de 45, em que ele teve mais de uma composição - "Izaura" e "Que Rei Sou Eu" - entre as preferidas do público. E essa preferência justificava-se, pois as composições eram animadas e bem feitas, como "Izaura" que, em 1977, mereceu uma revisitação de João Gilberto.

Este samba, que tem estribilho de Roberto Roberti , trata do dilema de um indivíduo que reluta em ficar com uma mulher, porque teme perder a hora do trabalho ("Se eu cair em seus braços / não há despertador que me faça acordar"). Mas na segunda parte - só de Herivelto - o sujeito parece optar pelo trabalho, embora admita uma alternativa: "Se você quiser eu fico / mas vai me prejudicar...".

Izaura (samba, 1945) - Herivelto Martins e Roberto Roberti

Disco 78 rpm / Título da música: Isaura / Autoria: Martins, Herivelto (Compositor) / Roberti, Roberto (Compositor) / Francisco Alves (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1944 / Nº Álbum 12530

F7+     Gb0     Gm7   C7/-9
Ai,  ai,  ai    Izaura
F7+       F0         Gm7   C7/-9
Hoje eu não posso ficar
F7       F7/5+          Bb7+
Se eu cair nos seus braços
    B0        A7/13  D7/-9 G7 C7/-9  F7+
Não há despertador que me faça acordar
              F0
Eu vou trabalhar


Am7/4  Ab7/-5  Gm7/4   Gb7/-5
Ai,  ai,  ai,         Isaura
Am7        Ab0       Gm7    C7/-9
Hoje eu não posso ficar
F7    F7/5+             Bb7+
Se eu cair nos seus braços
        B0         A7/13 D7/-9 G7 C7/-9 F7+
Não há despertador que me faça acordar


     F0             Gm7           C7/-9         F7+
O trabalho é um dever    /    Todos devem respeitar
      F6                 F7      F7/5+             Bb7+
Oh,  Izaura, me desculpe   /   No domingo eu vou voltar
               Bbm6                            Am7
Seu carinho é muito bom   /  Ninguém pode contestar
      Dm7             G7                       Gm7
Se você quiser,  eu fico  /   Mas vai me prejudicar
            C7/-9
Eu vou trabalhar


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

João Gilberto: Insensatez


Algumas canções de Tom Jobim como o “Samba de uma Nota Só” e “Insensatez” — são vez por outra acusadas de plágios. Ao primeiro atribui-se uma semelhança com o recitativo de “Night and Day”, que não se justifica, uma vez que a divisão e os encadeamentos harmônicos, portanto a concepção das duas canções são totalmente diferentes.

Já “Insensatez” é uma composição chopiniana, aparentada com o “Prelúdio n°4, em mi menor, opus 28”, na melodia e na harmonia, o que necessariamente não significa que seja plágio. A influência de Chopin, também presente na obra de Ernesto Nazareth, jamais foi negada por Jobim que ainda a admitia em seu “Retrato em Branco e Preto” e no samba “Apelo”, que chamava de “aquele samba do Baden”.

O ponto de partida de uma composição, sua célula melódica inicial, sugere uma seqüência natural e isso pode confundir o leigo pouco habilitado a reconhecer uma estrutura harmônica. Mais ainda: o plágio implica, naturalmente, aspectos dolosos, direitos que nunca foram reclamados por Cole Porter (autor de “Night and Day”), falecido em 15.10.64, quando “One Note Samba” já rendia milhões nos Estados Unidos e na Europa. Ou seriam os advogados do compositor tão distraídos que não atentaram para o caso?

A semelhança de “Insensatez” com a música de Chopin foi motivo de muitas brincadeiras de músicos americanos, amigos de Jobim, como o saxofonista Gerry Mulligan que chegou a gravar o “Prelúdio n°4” em arranjo bossanovístico. Enfim, a questão do plágio musical é assunto complexo e controvertido, que nem sempre é focalizado com uma argumentação técnica, isenta de paixão.

Mas, voltando a “Insensatez”, esta canção foi lançada por João Gilberto no seu terceiro elepê, que completa a vital trilogia estabelecedora dos padrões característicos da bossa nova. Aliás, das 62 composições lançadas por Tom Jobim nesse período de intensa produtividade (1957 a 1961), apenas três (“Desafinado”, “Corcovado” e “Insensatez”) tiveram sua primeira gravação por João Gilberto.

“Insensatez” é basicamente formada por uma frase de oito compassos no modo menor, usada com extremo bom gosto em quatro sequências que baixam em três tons inteiros, com a quarta permanecendo na tonalidade da terceira. Esses 32 compassos são repetidos em função da letra, dirigida ao coração do poeta, a princípio recriminando-o por fazer chorar de dor o seu amor, um amor tão delicado”, depois exortando-o a pedir perdão, “porque quem não pede perdão não é nunca perdoado”.

A qualidade da canção proporcionou-lhe uma extensa discografia, que vai de Elis, e Sylvia Telles a estrangeiras como Peggy Lee, Nancy Wilson, Morgana King (na versão em inglês intitulada “How Insensitive”), isso sem falar dos interpretes da obra de Jobim (Sinatra, Ella Fitzgerald) e até dos não atuais como Nelson Gonçalves, além de inúmeros músicos de jazz (A Canção no Tempo - Vol. 2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Ed. 34).

Insensatez (samba bossa, 1961) - Tom Jobim e Vinícius de Moraes - Intérprete: João Gilberto

LP João Gilberto / Título da música: Insensatez / Jobim, Tom (Compositor) / Moraes, Vinícius de (Compositor) / Gilberto, João (Intérprete) / Gravadora: Odeon, 1961 / Álbum MOFB 3202 / Lado B / Faixa 5 / Gênero musical: Samba.

Tom: Dm7
Dm7      A/C#          Cm6
A insensatez que você fez
                    G/B
Coração mais sem cuidado
Gm/B           D#7+      
Fez chorar de dor o meu amor
   A5+/7       Dm7
Um amor tão delicado
F7/C                      A#7+
Ah! Porque você foi fraco assim
Gm7           Dm7
Assim tão desalmado
F7/C       E7/B             A4/7
Ah! Meu coração quem nunca amou
     A5+/7      Dm7
Não merece ser amado
Dm7       A/C#           Cm6
Vai meu coração, usa a razão
            G/B
Usa só sinceridade
A#6          D#7+          
Quem semeia vento, diz a razão
        A5+/7      Dm7
Colhe sempre tempestade
F7/C      
Vai meu coração
       A#7+    Gm7       Dm7
Pede perdão, perdão apaixonado
F7/C             E7/B      A7/4
Vai porque quem não pede perdão
      A5+/7     Dm7
Não é nunca perdoado

João Gilberto: Oh-Ba-La-Lá

Ho-ba-la-lá (bolero, 1959) - João Gilberto

LP Chega de Saudade / Título da música: Ho-ba-la-lá / João Gilberto (Compositor) / João Gilberto (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1959 / Nº Álbum MOFB 3073 / Lado A / Faixa 4 / Gênero musical: Bolero.


Intro: Ebm9 G#7 Ebm9 G#7 Ebm9 G#7 Ebm9 G#7

Ebm9   G#7 Aº   Bbm7        Gº   Eº
E amor,   O    hó-bá-lá-lá,        
Ebm7        G#7/9 Ebm6   C#6  Eº   Ebm7 Fº
hó-bá-lá-lá      uma canção,
Ebm9       G#7 Aº   Bbm7        Gº   Eº 
Quem ouvir    o    hó-bá-lá-lá,        
Ebm7        G#7/9 Ebm6  C#7/4 C#7
Terra feliz      o coração
F#m7      B7/9 F#m6     Emaj7       Gº  
O amor encontrara      ouvindo esta cançao    
F#m7          B7/9 F#m6     Fm7 E7
alguem compreendera      seu coração
Ebm9      G#7 Aº   Bbm7        Gº 
Vem ouvir,   O    hó-bá-lá-lá,        
Eº   Ebm7        G#7/9 Ebm6   C#6
hó-bá-lá-lá      uma cançao
Ebm9   G#7 Aº   Bbm7        Gº   Eº
E amor,   O    hó-bá-lá-lá,        
Ebm7        G#7/9 Ebm6   C#6  Eº   Ebm7 Fº
hó-bá-lá-lá      uma canção,
Ebm9       G#7 Aº   Bbm7        Gº 
Quem ouvir    o    hó-bá-lá-lá,        
Eº   Ebm7        G#7/9 Ebm6  C#7/4 C#7
Terra feliz      o coração
F#m7      B7/9 F#m6     Emaj7       Gº 
O amor encontrara      ouvindo esta canção    
F#m7          B7/9 F#m6     Fm7 E7
alguem compreendera      seu coração
Ebm9      G#7 Aº   Bbm7        Gº   Eº 
Vem ouvir,   O    hó-bá-lá-lá,        
Ebm7        G#7/9 Ebm6    Eb7
hó-bá-lá-lá      esta cançao bá-lá-lá hó-bá-lá-lá
Dmaj7                    Eb7         G#7/9 Ebm6
hó-bá-lá-lá hó-bá-lá-lá, hó-bá-lá-lá,      
C#6
hó-bá-lá-lá, hó-bá-lá-lá, hó-bá-lá-lá

Ciro Monteiro: Falsa Baiana

Geraldo Pereira
Na noite de segunda-feira do carnaval de 1944, Roberto Martins estava no Nice, conversando com Geraldo Pereira, quando chegou sua esposa, dona Isaura, fantasiada de baiana. Acontece que, não tendo temperamento carnavalesco, a Sra. Martins era a própria imagem da desanimação, em contraste com os foliões, o que levou o marido a observar: "Olha aí, Geraldo, a falsa baiana...". O que Roberto não sabia era que, inconscientemente, estava oferecendo a Geraldo Pereira o mote para ele criar "Falsa Baiana", o maior sucesso de sua carreira.

Neste samba de ritmo sacudido, bem característico de seu estilo, Geraldo estabelece uma divertida comparação entre a falsa baiana - que "Só fica parada / não canta, não samba / não bole, nem nada" - com a verdadeira - "Que mexe, remexe / dá nó nas cadeira / e deixa a moçada com água na boca". Nascido em Juiz de Fora e criado no morro carioca da Mangueira, este notável compositor - bom de letra e melodia entraria na década de 1940 para a história do samba, gênero que revigorou em escassos quinze anos de atividade.

Talvez pelo caráter inovador de sua obra, que inclui até certas resoluções harmônicas inusitadas na época, Geraldo Pereira não foi suficientemente valorizado em vida. Várias dessas inovações estão bem à mostra em "Falsa Baiana": a originalidade melódica, o deslocamento da acentuação rítmica (que causaria forte impressão em João Gilberto) e o ritmo interno das construções verbais, independentes da melodia. Tudo isso seria valorizado na interpretação inconfundível de seu lançador, o grande sambista Ciro Monteiro.

Uma curiosidade: antes de entregar "Falsa baiana" a Ciro, o autor mostrou-a ao cantor Roberto Paiva, que a rejeitou. "Era de madrugada" - relembra Paiva - "e o Geraldo, ‘meio alto', cantou enrolando as palavras, dando a impressão de que o samba estava ‘quebrado'. Um mês depois, ao ouvi-lo na voz do Ciro, descobri que aquela beleza toda era o samba que o Geraldo me oferecera".

Falsa baiana (samba, 1944) - Geraldo Pereira

Disco 78 rpm / Título da música: Falsa baiana / Autoria: Pereira, Geraldo (Compositor) / Monteiro, Ciro (Intérprete) / Lacerda, Benedito, 1903-1958 (Acompanhante) / Regional (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 03/04/1944 / Nº Álbum 800181 / Lado A / Gênero: Samba

Intro.: G7+ D7/9

G7+                                  A7
Baiana que entra na roda e só fica parada
                                   D7/9
Não samba, não dança, não bole nem nada
                             G7+ G7
Não sabe deixar a mocidade louca
           C7+              
Baiana é aquela que entra no samba
               Bm7
de qualquer maneira
            E7                 A7
Que mexe, remexe, dá nó nas cadeiras
              D7/9-            G7+  E7
Deixando a moçada com água na boca
          Am7                   D7/9-
A falsa baiana quando entra no samba
              G7+
Ninguém se incomoda, ninguém bate palma
                Am7                D7/9
Ninguém abre a roda, ninguém grita ôba
          G7+    G7
Salve a Bahia, senhor
             C7+               Cm
Mas a gente gosta quando uma baiana
           Bm7               E7
Samba direitinho, de cima embaixo
            Am7
Revira os olhinhos dizendo
         D7/9-         G7+   D7/9
Eu sou filha de São Salvador


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

João Gilberto: Eu Sambo Mesmo


Eu Sambo Mesmo (samba, 1991) - Janet de Almeida - Intérprete: João Gilberto

LP/CD João / Título da música: Eu Sambo Mesmo / Janet de Almeida (Compositora) / João Gilberto (Intérprete) / Gravadora: Polygram / Ano: 1991 / Nº Álbum: 848 188-1 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Samba / Bossa Nova.


Tom: F

         F6/9   F7/5+ G-6
Há quem sambe muito  bem ha que sambe por gostar
         F6/9      D/F#               F6/9
ha quem sambe por ver os outros sambar
          A-7    A-6
ba ba da ba bai ba da da
 G7+        G6           A-7      A-6
mas eu não sambo para copiar ninguém
 G7+      G6           A-7        A-6  G13 G7/5+
eu sambo mesmo com vontade de sambar
           G-6              F7        A# G7
porque no samba eu sinto o corpo remexer         
           G-6          F7       A# G7
e é só no samba que eu sinto prazer
         G-6          F7       F6/9
é só no samba que eu sinto prazer
         G7           G-6              D#7+/G
ah quem não gosta do samba não dá valor
                  F13 A7/5+
não sabe compreender
           F7+/A      A7/5+     F13
um samba quente harmonioso buliçoso
            F7                  A#
mexe com a gente da vontade de viver
                       G7
a minoria diz que não gosta mas gosta
G-6                    F7
 e sofre muito quando vê alguém sambar
F-7       F°          G-7             A7/5+ G-7
 faz força se domina finge não estar
     G7         A#           F7      F6/9
tomadinho pelo samba louco pra sambar
     G7         A#           F7      F6/9
tomadinho pelo samba louco pra sambar

Os Cariocas: Ela é Carioca



Ela é carioca (samba bossa, 1963) - Tom Jobim e Vinícius de Moraes - Intérprete: Os Cariocas

LP Mais Bossa Com Os Cariocas / Título da música: Ela é carioca / Tom Jobim (Compositor) / Vinícius de Moraes (Compositor) / Os Cariocas (Intérprete) / Gravadora: Philips / Ano: 1963 / Catálogo: P 632.177 L / Gênero musical: Samba.


Tom: C

Intro:  C

       C7+             Am7
Ela é carioca, ela é carioca
        D7/9
Basta o jeitinho dela andar
  Dm7          Bbm6      Am6      G7
E ninguém tem carinho assim para dar
Gm7                  C7/9
Eu vejo na cor dos seus olhos
            F#m7/5-  Fm6
As noites do Rio ao luar
        C7+   Bº          Bb7+  A7
Vejo a mesma luz, vejo o mesmo céu
 Ab7+     Db7/9
vejo o mesmo mar

            C7+            Am7
Ela é meu amor, só me vê a mim
         D7/9
A mim que vivi para encontrar
Dm7            Bbm6    Am6        G7
Na luz do seu olhar, a paz que sonhei

   Gm7                     C7/9
Só sei que eu sou louco por ela
               F#m7/5-  Fm6
E pra mim ela é linda demais
  C7+     Bº         Bb7+  Bº
E além do mais, ela é carioca
         C7+
ela é carioca

João Gilberto: Eclipse


Eclipse (bolero, 1970) - Margarita Lecuona - Interpretação: João Gilberto

LP João Gilberto En México / Título da música: Eclipse / Margarita Lecuona (Compositora) / João Gilberto (Intérprete) / Gravadora: Orpheon / Tapecar / Ano: 1970 / Nº Álbum: LP-12.717 / Lado B / Faixa 5 / Gênero musical: Bolero.


B7/9+
Eclipse de luna en el cielo
  A#º
Ausencia de luz en el mar
     B7/9+
Muy solo con mi desconsuelo
            C7/13+   C5/7+     C7   F7/9
Mirando la noche me puse a llorar

E7/9+
Pensaba que ya no me amabas
     D#7(#9)         A#°
Con honda desesperación
D7/9                       C#7(b9)
Y en algo que siempre eclipsaba
              F#7(13) F#5/7+  F#7 A#°
La luz de tu amor

B7/9+
Eclipse de luna en el cielo
   A#°
Ausencia de luz en el mar
     B7/9+
Muy solo con mi desconsuelo
            C7/13+   C5/7+     C7   F7/9
Mirando la noche me puse a llorar

   E7/9+                D#7(#9)
Eclipse de amor en tus labios
    A#°                D7/9 C#7(b9)
Que ya no me quieren besar
G°                      F#7(13)
Quisiera olvidar sus agravios
A#°        B7/9+
Y luego soñar

Maria Helena Raposo: É Luxo Só

Ary Barroso compõe ao piano. O artista deu dimensão internacional à música popular do Brasil.

É luxo só (samba, 1957) - Ary Barroso e Luiz Peixoto

Disco 78 rpm / Título da música: É luxo só / Autoria: Barroso, Ary (Compositor) / Peixoto, Luiz (Compositor) / Raposo, Maria Helena (Intérprete) / Coral (Acompanhante) / Orquestra (Acompanhante) / Severino Filho (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Mocambo, Indefinida / Nº Álbum 15179 / Gênero musical: Samba


----C7+--------- A7/5+ ----------Dm7
Olha / Essa mulata quando samba
----------A7
É luxo só
------Dm7--- G7 ------------Dm7 ---G7------ C7+----- Dm7
Quando /----- Todo seu corpo se embalança
----------Em7 --------Gm7 -------A7/5+
É luxo só / -------Tem
-----------------------------Dm7
Um não sei o quê -----que faz ------a confusão
Fm7 -----G7 ----------------------C7+
O / ---------Que ela não tem, meu Deus
------------Dm7----- Em7 ---------F/G
É compaixão /-------- Eta mulata bamba

---C7+ -------------A7/5+------- Dm7------- A7
Olha / Essa mulata quando dança
----------Dm7 ---A7 -------Dm7------- G7
É luxo só / --------Quando
----------------C7+ ----------Dm7
Todo seu corpo se embalança
----------Em7 -----------A7
É luxo só / --------Porém
--------------------Dm7
Seu coração quando se agita
--------Gb0 ---------C7+
E palpita mais ligeiro
-------A7/5+ ---Dm7--- G7------ C7+
Nunca vi compasso tão brasileiro

----------------Dm7------ Em7
Êta samba cai -----pra lá -----cai pra cá
----------Dm7 --------------C7+ -----------A7/5+
Cai pra lá -----cai cá / Mexe com as cadeiras
------Dm7------- G7------- C------------- G7
Mulata / Seu requebrado me maltrata

Anjos do Inferno: Doralice

Doralice (samba, 1945) - Dorival Caymmi e Antônio Almeida

Disco 78 rpm / Título da música: Doralice / Autoria: Almeida, Antônio (Compositor) / Caymmi, Dorival, 1914-2008 (Compositor) / Anjos do Inferno (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor, 1945 / Nº Álbum 800329 / Lado A / Gênero musical: Samba

A7+                   B7
Doralice eu bem que te disse
        E7                  A7+
Amar é tolice, é bobagem, ilusão
                       E7+
Eu prefiro viver tão sozinho
   C#m      F#m7     B7    Bm7 Bº
Ao som do lamento do meu violão
  A7+                    B7
Doralice eu bem que te disse
              E7                    Em7 Eº
Olha essa embrulhada em que vou me meter
 D7+   Dm6   A7+/C#      C#º
Agora amor, Doralice meu bem
    Bm7        Bº     A7+  A6
Como é que nós vamos fazer?
        Bm7      E7    A7+ A6
Um belo dia você me surgiu
         G#m7      C#7     F#m7
Eu quis fugir mas você insistiu
        Bm7            E7        A7+   A6
Alguma coisa bem que andava me avisando
      Bm7           E7         A7+
Até parece que eu estava adivinhando
   Cº            Bm7      E7      A7+
Eu bem que não queria me casar contigo
 Cº           Bm7      E7           Em7     Eº
Bem que não queria enfrentar esse perigo Doralice
 D7+       Dm6         A7+/C# C#º
Agora você tem que me dizer
     Bm7        E7     A7+
Como é que nós vamos fazer? 

Miúcha e João Gilberto: Disse Alguém

Miúcha e seu ex-marido João Gilberto - Julho de 1980 - O Globo

Disse Alguém (All Of Me) (1980) - Seymour Simons e Gerald Marks - Versão: Haroldo Barbosa - Interpretação: Miúcha - Participação: João Gilberto

LP Miúcha / Título da música: Disse Alguém (All Of Me) / Seymour Simons (Compositor) / Gerald Marks (Compositor) / Haroldo Barbosa (Versão) / Miúcha (Intérprete) / João Gilberto (Partic.) / Gravadora: RCA Victor / Ano: 1980 / Nº Álbum: 103.0376 / Lado A / Faixa 1 / Gênero musical: Canção / Fox-canção.


G                              B7
Disse alguém que há bem no coração
  E7                      Am7
Um salão onde o amor descansa
 B7                        Em7
Ai de mim        eu tão sozinho
 A7                  Am7  D7
Vivo assim, sem esperança

G                             B7
A implorar alguém que não me quis
   E7               Am7
E feliz,   e feliz seria
        Bbº     Bm7      E7
Coração meu, convém descansar
 Am7        D7    G
Soluça   mais devagar

G                                     B7
Disse alguém, (disse) que há bem no coração
  E7                 Am7                      
Um salão, um salão dourado (onde o amor sempre dança)
 B7                         Em7
Ai de mim que só vivo tão sozinho
A7                                    Am7     D7
Vivo assim, vivo sem ter  um terno carinho

   G                          B7
A implorar alguém que não me quis
 E7                   Am7
E feliz então   eu sei, bem sei que não mais seria
 C         Cm             Bm7
Meu, meu coração sem esperança
  E7                 A7 A5+/7
E vive a chorar, soluçar
 Am7            D7         G
Como quem tem medo de reclamar

João Gilberto: Desafinado

João Gilberto
Soando como a coisa mais estranha que aparecera até então na música brasileira, a primeira gravação de “Desafinado” (Odeon, 14426-b), lançada em fevereiro de 59, já mostrava tudo o que a bossa nova oferecia de inovador e revolucionário: o canto intimista, a letra sintética, despojada, o emprego de acordes alterados e, sobretudo, um extraordinário jogo rítmico entre o violão, a bateria e a voz do cantor.

Responsável por este jogo rítmico, seu interprete, João Gilberto, assumia assim de imediato um papel destacado no trio — completado pelo compositor Tom Jobim e o poeta Vinícius de Moraes que, criando a bossa nova, alteraria de forma irreversível o curso de nossa música popular. Apenas com Tom e Vinicius teríamos certamente uma música moderna, sofisticada, renovadora, mas que não seria o que se chamou bossa nova.

A melodia de “Desafinado” é bastante “torta” (“era mais ainda na concepção original. O João é que alterou alguma coisa na hora de gravar”, informa Tom Jobim) em razão principalmente de uma engenhosa alteração no quinto e sexto graus da escala na frase inicial (“Se você disser que eu desafino, amor”) que recai sobre as sílabas “de” (de “de-sa-fino”), “a” e “mor” (de “a-mor”).

Ao sustenizar a dominante e bemolizar a super-dominante, foram produzidos intervalos melódicos inusitados para os padrões da música brasileira da época, a ponto de dificultar a interpretação de alguns cantores menos dotados. Localizando essa alteração sobre a palavra “desafino”, os autores criaram a impressão de que o cantor semitonava, ou seja desafinava, o que levou muita gente a achar João Gilberto um cantor desafinado. Ao mesmo tempo, a batida deslocada do violão e o contratempo da percussão confundiram os músicos, provocando estupefação geral.

Tanta novidade apresentada numa única composição a levaria inevitavelmente ao sucesso, que se estenderia ao exterior. Nos Estados Unidos, por exemplo, o single de “Desafinado”, com Stan Getz e Charlie Byrd, gravado em 1962, ultrapassou a marca de um milhão de cópias e recebeu o prêmio Grammy de melhor performance de jazz. O fonograma foi extraído do álbum Jazz samba, que permaneceu setenta semanas no hit-parade americano e também ultrapassou a marca de um milhão de cópias. Esta gravação é considerada o marco inicial da bossa nova nos Estados Unidos. (A Canção no Tempo - Vol.2 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34).

Desafinado (samba bossa, 1959) - Newton Mendonça e Tom Jobim - Interpretação: João Gilberto

LP Chega de Saudade / Título da música: Desafinado / Tom Jobim (Compositor) / Newton Mendonça (Compositor) / João Gilberto (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: Odeon, 1959 / Nº Álbum MOFB 3073 / Lado B / Faixa 1 / Gênero musical: Samba.

Tom: F7+
 F7+                          G7/5-
Se você disser que eu desafino amor
Gm7                  Bb/C         Cm7      D7/9-
Saiba que isso em mim provoca imensa dor
Gm7     A7/5+       D7+           D7/9-
Só privilegiados têm ouvido igual ao seu
G7                       Bb/C     Gb7/13
Eu possuo apenas o que Deus me deu
 F7+                      G7/5-
Se você insiste em classificar
Gm7            Bb/C          Cm7     D7/9-
Meu comportamento de anti-musical
Gm7            A7/5+        F6/9    E7/9+
Eu mesmo mentindo devo argumentar
A7+           G#7/5+       Em/G      D/E
Que isto é bossa-nova, isto é muito natural
   A7+          Bbº        Bm7/4         E7
O que você não sabe nem sequer pressente
A7+       Am7          Bm7/4      E7
É que os desafinados também têm um coração

C7+             C#º         Dm7/4
Fotografei você na minha Roleiflex
G7    Gm7           D7/9-        G7  Gb7/13
Revelou-se a sua enorme ingratidão
F7+                    G7/5-
Só não poderá falar assim do meu amor
Gm7         Bb/C         Cm7         D7/9-
Este é o maior  que você pode encontrar
Gm7           Bbm7         Am7         G7
Você com sua música esqueceu o principal
G7
Que no peito dos desafinados
Bbm7         Eb7/9
No fundo do peito bate calado
G7             Gb7/13
Que no peito dos desafinados
F6/9    Bbm6 F6/9
Também bate um coração

Isaura Garcia: De Conversa em Conversa

Isaura Garcia

Tal como "Saia do caminho", lançado em 1946, "De Conversa em Conversa" explora o tema da separação amorosa. Só que de uma maneira diversa, pois, enquanto no samba anterior a protagonista aceita o fato resignadamente, aqui reage de forma decidida, procurando minimizar o trauma da separação: "Vivendo dessa maneira / continuar é besteira / não adianta não / o que passou é poeira / deixa de asneira / que eu não sou limão / não sou limão, não, não...".

O curioso é que em "De Conversa em Conversa" o autor da letra é Haroldo Barbosa, irmão de Evaldo Rui, letrista de "Saia do Caminho", o que de certa maneira expõe as diferenças de estilo dos dois, sendo o primeiro irônico, prático, realista, em contraste com o segundo, mais chegado ao romantismo.

Lançado no rádio por Lúcio Alves (autor da melodia, quando tinha 16 anos) e os Namorados da Lua, com o título de "Não Sou Limão", o samba despertou a atenção de Isaura Garcia, que o gravou acompanhada pelo citado conjunto.

De conversa em conversa (samba, 1947) - Haroldo Barbosa e Lúcio Alves

Disco 78 rpm / Título da música: De conversa em conversa / Autoria: Barbosa, Haroldo (Compositor) / Alves, Lúcio, 1927-1993 (Compositor) / Isaura Garcia (Intérprete) / Os Namorados da Lua (Intérprete) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor, 1946 / Nº Álbum 800497 / Lado B / Lançamento: 1947 / Gênero musical: Samba

F7+
Oi de conversa em conversa
  Am7            G#m7  Gm7   D7  Gm7
Você vai arranjando um meio de brigar
                                 G#º
Oi de palavra em palavra você está querendo
   F    F7+
É nos separar
               Am7                 G#m7
Parece até que o destino uniu-se com você
             Gm7
Só pra me maltratar
                                   C7/9
Pois cada dia que passa é mais uma tormenta
              F7+
Que eu deixei ficar
Nosso viver não adianta
    Am7     G#m7    Gm7  D7 Gm7
É melhor juntarmos nossos trapos
Arrume tudo que é seu
      E7                A7    F7
Que vou separando os meus farrapos
               Bb7+                 Bbm7
Vivendo dessa maneira continuar é besteira
             Am7      D7
Não adianta não, não, não
                Gm7
O que passou é poeira
         C7/9                  F7+
Deixa de asneira que eu não sou limão
F#7+              F7+
Não sou limão, eu não!


Fontes: Instituto Moreira Salles - Acervo musical; A Canção no Tempo - Volume 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Sílvio Caldas: Da Cor do Pecado

Lançado por Sílvio Caldas na melhor fase de sua carreira, "Da Cor do Pecado" é um grande samba, o melhor do reduzido repertório do compositor Bororó (Alberto de Castro Simoens da Silva).

Brejeiro, malicioso, possui uma das letras mais sensuais de nossa música popular: "Este corpo moreno / cheiroso, gostoso/ que você tem / é um corpo delgado / da cor do pecado / que faz tão bem...".

Segundo o autor, "a musa desses versos chamava-se Felicidade, uma mulher de vida pregressa pouco recomendável", que trabalhava em frente ao Tribunal de Justiça e lhe foi apresentada por Jaime Távora, oficial de gabinete do ministro José Américo. Iniciou-se assim um romance de vários anos em que Bororó foi responsável pela mudança de vida da moça. Mais tarde ela se casaria com um médico, tendo morrido ainda jovem em conseqüência de uma gripe mal curada.

De melodia e harmonia elaboradas, acima da média dos sambas da época, "Da Cor do Pecado" tem seu aspecto mais interessante nas modulações da primeira para a segunda parte e na volta desta para a primeira. Ainda quanto à melodia, tal como se repetiria em "Curare", a frase final - "eu não sei bem porquê / só sinto na vida o que vem de você" - é um primor de preparação para o acorde de dominante que conduz ao tom da primeira parte.

"Da Cor do Pecado" permanece como um clássico, tendo regravações de artistas como Elis Regina, Nara Leão, João Gilberto, Ney Matogrosso e os instrumentistas Jacó e Luís Bonfá.

Da cor do pecado (samba, 1939) - Bororó

Disco 78 rpm / Título da música: Da cor do pecado / Autoria: Bororó, 1898-1986 (Compositor) / Caldas, Silvio (Intérprete) / Regional (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: RCA Victor, 06/07/1939 / Nº Álbum 34485 / Lado B / Gênero musical: Samba


D7+ B7/-9    Em7     A7        Gbm7
Este corpo moreno, cheiroso e gostoso
F0    Em7    A7/6
Que você  tem . . . .
D7+    E7     A/E     Gb7       Bm7
É um corpo delgado da cor do pecado
E7      Em7     A7/6
Que faz tão bem . . . .

D7+  B7/-9     Em7       A7   Gbm7
Este beijo molhado escandalizado
F0       Em7    A7/6
Que você me deu . . . .
D7         G               F0       Gbm7
Tem sabor diferente que a boca da gente
  Em7        D
Jamais esqueceu . . . .

 Bm7       Bbm7      Am7                    D7
Quando você me responde umas coisas sem graça
                  G
A vergonha se esconde
          Bm7/-5      E7      Am7
Porque se revela a maldade da raça
               D7                  G7+
Este cheiro de mato tem cheiro de fato
          Bm7          Bbm7      Am7
Saudade tristeza essa simples beleza
       B7                  Em7    G7
Teu corpo moreno,  morena enlouquece
 C7+              Bm7
Eu não sei bem porque
Eb7        Ab           D7     G      A7
Só sinto na vida o que vem de você . . . .


Fontes: Instituto Moreira Salles - Acervo Musical; A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.

Orlando Silva: Curare

"Curare" é o segundo sucesso de Alberto de Castro Simoens da Silva, o afamado boêmio carioca Bororó, violonista e compositor nas horas vagas, cuja obra praticamente se resume a duas músicas, ambas clássicos.

Bororó foi o padrinho da carreira artística de Orlando Silva, que em 1939 ficou enciumado por não ter gravado "Da cor do pecado", o outro clássico, lançado por Sílvio Caldas. Então o compositor deu-lhe "Curare", como compensação.

Além da letra brejeira, a construção harmônica da segunda parte, especialmente a frase final, uma seqüência avançada para época, tornam este samba atraente para intérpretes, como João Gilberto, interessados em músicas de concepção mais elaborada.

Curare (samba, 1940) - Bororó

Disco 78 rpm / Título: Curare / Autoria: Bororó, 1898-1986 (Compositor) / Silva, Orlando (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Imprenta [S.l.]: Victor, 1940 / Nº Álbum 34667 / Lado A / Gênero: Samba choro

(A7)          D
Você tem buniteza,
Fo       Em    A7         Dm7   A7
E a natureza, foi quem agiu...
                   D
Com estes óio de índia,
  E7        A                 E7       A7    E7
Curare no corpo,  que é bem Brasil.

     A7      D
Tu é toda Bahia
     Fo         Em
É a fulô do mucambo,
    A7          Gb6  B7
Da gente de cô
                 Em      A7
Faz do amô confusão,
         D      B7        E7    A7
Nesta misturação bem banzeira,
     D    G7       Gb7         Bm    A7
Insoneira, que tem raça e tradição

                       D
Quebra, machuca minha dô
         A7             D
Nêga, neguinha tudo-tudinho
         A7
Meu amôzinho, com esta boquinha
       D
Vermelhinha, rasgadinha
 Gb      Db7          Gb       A7
Qui tem veneno, cumo que...

                     D                   
Conta tristeza e alegria
         A7                     D    B7
Pru seu bem, que tudo vive a dizê
       E7   A7   D    G       D
Que você é diferente desta gente
     A7       D
Que finge querê !


Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.