Grupo de chorões do Rio de Janeiro, com Sinhô no centro (Festa da Penha, 15/11/1916).
A História da MPB com as músicas que se destacaram ano por ano até 1985. Em muitos casos a música aparece no ano em que fez sucesso e não quando foi feita. Um exemplo disso é a música "Carinhoso" composta por Pixinguinha em 1917 e que aparece em 1937, porque esse foi ano em que se destacou com o público:
Ary Barroso compôs Aquarela do Brasil no início de 1939, numa noite de chuva torrencial, que o obrigou a ficar em casa, contrariando seus hábitos. Antes que a chuva terminasse, ainda teve inspiração para compor outra obra prima, a valsa "Três lágrimas".
Quase vinte anos depois, ele mesmo descreveria a criação de Aquarela do Brasil, em entrevista à jornalista Marisa Lira, do Diário de Notícias: "Senti iluminar-me uma idéia: a de libertar o samba das tragédias da vida, (...) do cenário sensual já tão explorado. Fui sentindo toda a grandeza, o valor e a opulência de nossa terra. (...) Revivi, com orgulho, a tradição dos painéis nacionais e lancei os primeiros acordes, vibrantes, aliás. Foi um clangor de emoções. O ritmo original (...) cantava na minha imaginação, destacando-se do ruído da chuva, em batidas sincopadas de tamborins fantásticos. O resto veio naturalmente, música e letra de uma só vez. Grafei logo (...) o samba que produzi, batizando de ‘Aquarela do Brasil'. Senti-me outro. De dentro de minh'alma extravasara um samba que eu há muito desejara. (...) Este samba divinizava, numa apoteose sonora, esse Brasil glorioso."
Exageros à parte, "Aquarela do Brasil" é mais ou menos isso que Ary Barroso pretendeu fazer: uma declaração de amor ao Brasil, através de uma bela composição. É também a obra mais representativa da grande fase de sua carreira (1938-1943), em que ele completa um processo de refinamento de seu repertório, incorporando-lhe requintes até então inusitados em nossa música popular. E como foi preferencialmente um compositor de samba, é neste gênero que melhor empregará esses requintes, de forma especial nos chamados sambas-exaltação, um novo tipo de música do qual é inventor e "Aquarela do Brasil", o paradigma. Já mostra no que o gênero ofereceria em qualidades e defeitos, esta composição sintetiza suas características fundamentais: os versos enaltecedores de nosso povo, sas paisagens, tradições e riquezas naturais, a melodia forte, sincopada, sonoridades brilhantes tudo isso mostrado num crescendo, do prólogo ao final apoteótico, que procura transmitir uma visão romântica e ufanista.
"Aquarela do Brasil" foi lançada por Araci Cortes em 10.06.39, na revista Entra na Faixa, de Ary e Luís Iglesias. Inadequada à voz da cantora, não fez sucesso. Um mês e meio depois, voltou a ser apresentada, desta vez de forma destacada, pelo barítono Cândido Botelho no espetáculo "Joujoux e Balangandãs". Sua primeira gravação aconteceria em seguida (18.08) por Francisco Alves, acompanhado por orquestra que executava um arranjo de Radamés Gnattali, grandiloqüente como exigia a composição. Com esta gravação iniciava-se sua monumental discografia que incluiria figuras como Sílvio Caldas, Antônio Carlos Jobim, Radamés Gnattali, Elis Regina, Gal Costa, João Gilberto, Caetano Veloso, o próprio Ary Barroso, as orquestras de Xavier Cugat, Morton Gould, Ray Conniff, Tommy e Jimmy Dorsey e os superastros Bing Crosby e Frank Sinatra.
A carreira internacional de "Aquarela do Brasil" começou por Hollywood em 1943, quando Walt Disney a incluiu no filme "Alô Amigos" ("Saludo Amigos"), com o título de "Brazil" e versos em inglês de S. K. Russell. No mesmo ano, gravada por Xavier Cugat, fez grande sucesso nos Estados Unidos, aonde chegou a ultrapassar a marca de um milhão de execuções. A partir de então, popular no Brasil e no exterior, se consagraria como uma espécie de segundo hino de nossa nacionalidade. Longe de prever todas essas glórias, Ary Barroso inscreveu "Aquarela do Brasil" no concurso de sambas para o carnaval de 1940, vencido por "Ò seu Oscar" (1°), "Despedida de Mangueira" (2°) e "Cai, cai" (3°). Considerando-se injustiçado, Ary rompeu com Villa-Lobos, presidente da comissão julgadora, com quem só se reconciliaria em 1955.
Título: Aquarela do Brasil (I) / Autoria: Barroso, Ary (Compositor) / Alves, Francisco (Intérprete) / Radamés e Sua Orquestra (Acompanhante) / Disco Odeon 11768-a / Nº da matriz: 6179 / Gravação: 18/Agosto/1939 / Lançamento: Outubro/1939 / Gênero musical: Cena Brasileira.
Título: Aquarela do Brasil (II) / Autoria: Barroso, Ary (Compositor) / Alves, Francisco (Intérprete) / Radamés e Sua Orquestra (Acompanhante) / Disco Odeon 11768-b / Nº da matriz: 6180 / Gravação: 18/Agosto/1939 / Lançamento: Outubro/1939 / Gênero musical: Cena Brasileira.
Título: Aquarela do Brasil / Autoria: Barroso, Ary (Compositor) / Caldas, Silvio (Intérprete) / Orquestra (Acompanhante) / Disco Victor, 1942 / Nº Álbum 34949 / Gênero: Samba
G6(9)
Brasil!
Gº
Meu Brasil brasileiro
G6(9)
Meu mulato inzoneiro
F7E7
Vou cantar-te nos meus ver...sos
Am7D7(9)Am7
O Brasil, samba que dá
D7(9)Am7
Bamboleio, que faz gingar
D7(9)Am7
Ó Brasil, do meu amor
D7(9)GEm7
Terra de Nosso Senhor
Am7D7(9)GEm7
Brasil! Brasil!
Am7D7(9)GG5+G6G5+
Pra mim, pra mim
GG5+G6G5+AmAm5+Am6
Ó abre a cortina do passado
Am5+AmAm5+Am6
Tira a mãe preta do serrado
Am5+GG5+G6
Bota o rei congo no congado
AmAm5+Am6
Brasil!
GG7F#7F7
Brasil!
EFEFEFE
Deixa cantar de novo o trovador
FEFE
A merencória luz da lua
E7AmAm5+Am6Am5+
Toda canção do meu amor
AmAm5+Am6Am7(b5)Bm7
Quero ver a Sá Dona caminhando
GEm7A7
Pelos salões arrastando
Am7D7(9)GEm7
O seu vestido rendado
Am7D7(9)GEm7
Brasil! Brasil!
Am7D7(9)GG5+G6G5+
Pra mim, pra mim
G6(9)
Brasil!
Gº
Terra boa e gostosa
G6(9)
Da morena sestrosa
F7E7
De olhar indiferen...te
Am7D7(9)Am7
O Brasil, samba que dá
D7(9)Am7
Bamboleio, que faz gingar
D7(9)Am7
Ó Brasil, do meu amor
D7(9)GEm7
Terra de Nosso Senhor
Am7D7(9)GEm7
Brasil! Brasil!
Am7D7(9)GG5+G6G5+
Pra mim, pra mim
GG5+G6G5+AmAm5+Am6
O esse coqueiro que dá côco
Am5+AmAm5+Am6
Oi, onde amarro a minha rede
Am5+GG5+G6
Nas noites claras de luar
AmAm5+Am6
Brasil!
GG7F#7F7
Brasil!
EFEFEFE
Oi estas fontes murmurantes
FEFE
Oi onde eu mato a minha sede
E7AmAm5+Am6Am5+
E onde a lua vem brincar
AmAm5+Am6Am7(b5)Bm7
O, esse Brasil lindo e trigueiro
GEm7A7
É o meu Brasil brasileiro
Am7D7(9)GEm7
Terra de samba e pandeiro
Am7D7(9)GEm7
Brasil! Brasil!
Am7D7(9)GG5+G6G5+
Pra mim, pra mim
Fonte: A Canção no Tempo - Vol. 1 - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34.